
Começo a puxar conversa com a senhora que estava ao meu lado. Vinha trazer a filha. Menina ainda, 17 anos, grávida do namorado. Imediatamente fiz a viagem do túnel do tempo, de volta aos meus 17 anos, quando era eu quem estava grávida, na sala de espera de um consultório de ginecologia. Durante a adolescência, desenvolvemos um superpoder heróico, e nada nos pode atingir. Podemos transar com o namorado sem camisinha, tomamos a pílula dia sim três dias não, tatuamos o nome do nosso amado no corpo, porque aquele amor é para sempre e porque nada de mal nos acontecerá. Ainda temos bastante latente dentro de nós o coração da Cinderela, à espera de que o príncipe nos livre das garras de domínio dos nossos pais, trazendo-nos para a felicidade plena. Felicidade com ele, é claro.
Até que percebemos que a menstruação não veio, como deveria vir, cheia de cólicas e atrapalhando a nossa praia de sábado. Esperamos mais um bocado, porque ainda existe a certeza de que somos invencíveis, com superpoderes fantásticos e nada nos pode abalar. Até que finalmente, chegamos ao laboratório, com a amiga, e abrimos o terrível papelzinho que diz: POSITIVO. O frio na espinha sobe e desce, a mistura de emoções despenca como avalanche. O primeiro pensamento é: Como contar à minha mãe/ao meu pai? Assim é para todas nós. O que diferencia são as histórias de cada uma até chegarmos à concepção. Há as que engravidaram por puro desleixo, acreditando realmente nos superpoderes da adolescência e sonhando com a casinha de bonecas e o bebê cor de rosa, há as que terminaram um namoro e ficaram com outro numa festa, "pra esquecer", e engravidaram deste outro, que sequer sabiam quem era, há as que engravidam de namorados cretinos que jamais assumirão a criança, há as que têm o apoio dos pais e as que ficam sozinhas. Mas uma coisa é comum a todas nós: Nossa infância acabou bruscamente, nos cuidados com assaduras e nos intervalos das amamentações. De repente temos um aluguel a pagar, brevemente uma creche, escolinha, festinha de primeiro ano, roupinhas e brinquedos. O pré vestibular ficou para trás, a faculdade terá que esperar e o sonho da formatura foi adiado, muitas vezes para sempre. Nossa cabeça ainda é de adolescente, mas nossas tarefas e responsabilidades são de uma adulta. E descobrimos que não temos superpoderes, não somos invencíveis e amores não duram a vida toda. Mas tatuagens sim, e filhos também.
Às doces meninas-mães do meu coração, sobrinhas adotivas e àquelas que eu nunca vi, mas cujas adolescências ainda estão aí, e já não serão mais vividas, o meu beijo.
Verónica Vidal
Às doces meninas-mães do meu coração, sobrinhas adotivas e àquelas que eu nunca vi, mas cujas adolescências ainda estão aí, e já não serão mais vividas, o meu beijo.
Verónica Vidal
Oo . É a mais pura verdade :X
ResponderExcluirTe amo mae.
Eu também te amo, Thaissa. E isso também é a mais pura verdade. Beijo.
ResponderExcluirTens a palavra fácil, como eu gosto. E gostas da palavra, o que não é fácil de encontrar. Mas... melhor do que isso, refletes. Ler o que escreves é como degustar um prato sabendo que nos faz bem. Ler-te faz bem. Quase quase me esqueci do teu decote.
ResponderExcluirAnónimo não circumflexo: agudo e esdrúxulo
Oh, meu doce ex-Anónimo (posto que só escrevo isto depois de desvendado o mistério)! Gosto sim, das palavras, mais especialmente da nossa língua, tão versátil, tão passível de contruções diversas. E, quando não há palavras que cheguem, invento-as! Fico feliz que o meu decote já não te atrapalhe mais, já andava pensando em mudar a foto. Tenho uma de burca. Estou lindíssima com ela! Beijoca.
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