terça-feira, 16 de abril de 2013

Coimbra Tem Mais Encanto em Vários Cantos

Rio Mondego e Parque Verde ao fundo - Coimbra
Hoje acordei com o canto dos passarinhos. De imediato lembrei-me da cena em que Branca de Neve canta com os bichinhos, no desenho de Walt Disney. Logo que o sono me saiu do olho, percebi que a primavera timidamente começava a se instalar, apesar das garras do inverno ainda estarem bem fincadas por aqui, com toda a sua pluviosidade cinzenta como o chumbo. Aqui e acolá já se notam flores a desabrocharem lentamente, arrancando mais sorrisos das pessoas, que também vão se abrindo junto com o tempo. As orquídeas da varanda abriram, as azaléas que já no ano passado pensei terem sido devoradas pelas formigas, ressuscitaram. A primavera por aqui é assim: faz-se notar, todos os dias, botão a botão.

Quando eu morava no Rio, fazia um lindo percurso de casa para o trabalho. Era um trajeto de cartão postal, absolutamente inesquecível. Cruzava a Ponte Rio-Niterói diariamente, com a linda vista da Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar, por uns bons 30 minutos em trânsito livre. Aquela vista era incansavelmente elogiada, por mim e por todos, com exceção dos mal humorados que são incapazes de se deleitar com uma vista bonita, ainda que seja a do Rio de Janeiro. Por alguns minutos, tudo fica perfeito, porque o céu se encontra com o mar, porque as nuvens são brancas e porque a topografia é um desenho de Deus, e Ele nos ama, para nos permitir viver ali, e apreciar aquela maravilha. Depois, voltamos a pensar nas nossas vidas e nos nossos problemas e nas contas para pagar, mas aqueles preciosos minutos de relaxamento fornecidos pela linda vista são uma bênção sem tamanho, são a recarga de energia necessárias para continuarmos com o fardo que algumas vezes é a vida. Eu preciso de um lugar bonito.Preciso desta energia visual para começar o meu dia, ou para terminá-lo. Competir com a vista do Rio de Janeiro seria difícil, muito difícil.

Logo que vim morar por aqui, debati-me como peixe fora d'água, agarrado pelo anzol. Somente via que perdera o mar, que não mais nadava no lindo oceano azul. Custei muito a perceber as belezas da nova terra, pois andava ocupada demais lamentando a falta que me fazia o calor e a música, a praticidade e toda uma facilidade de convívio que eu havia deixado para trás. Achava interessante uma e outra novidade, animais da fazendinha que antes só poderia ver no espaço "Bichos da Fazenda" dentro do Zoológico, atrás de uma grade, como pertencentes a uma realidade muito distante, agora podiam comer da minha mão e moravam no meu quintal. Ainda assim faltava a bela paisagem. Eu morria pelo visual carioca, pelo trajeto bonito de casa para o trabalho. Até que Caetano Veloso me disse, dentro do carro, às 8:30 da manhã: "...porque Narciso acha feio o que não é espelho...". E eu abri os olhos para apreciar a fileira de plátanos que se estendem pela estrada Nacional 111, desde a rotunda da Cidreira até chegar a Coimbra. Árvores ligeiramente inclinadas, que cresceram beijadas pelo vento, ordenadamente dispostas e que refletem as diferentes estações do ano com toda a magia. Até ontem estavam nuas do inverno. Hoje, já se vestem de folhas e uma ou outra flor vai colorindo o caminho. Chego ao trabalho e tenho o Parque Verde debruçado sobre mim, como que a convidar-me ao passeio à hora do almoço. Patinhos a pedirem migalhas de pão enquanto encantam meus olhos em seus tranquilos desfiles pelo rio Mondego. E eu, guardo a minha saudade no bolso e agradeço a Deus, porque Ele me ama, por me permitir viver aqui, e apreciar esta maravilha. Hoje volto para casa ouvindo uma música de Rui Veloso.


Verónica Vidal - ainda se encanta quando precisa parar na estrada para deixar passar um rebanho de ovelhas.