sábado, 25 de abril de 2015

O Incrível Mistério da Escova de Dentes Desaparecida - e outras coisas

Temos que concordar que existe um buraco negro na casa de todo ser humano. Para esse buraco, sem fundo e sem localização específica, vão as agulhas, as tesourinhas de unhas, os botões que guardamos com afinco para um dia repormos naquela blusa linda e, quando cai um botão dela, nunca mais achamos o sobressalente. Por que? Porque ele foi parar no buraco negro. Muitas vezes o pé de uma meia é sugado, sem dó nem piedade pela força do terrível buraco. Ainda outro dia, havia um chocolate lá em casa. Tenho certeza de que ele foi parar no buraco. Eu não comi. Só pode estar no hediondo lugar misterioso.

Fico indignada com algumas coisas que subitamente desapareceram do mercado, apesar de serem adoradas por 9 entre 10 brasileiros. O lanchinho Mirabel, por exemplo! Nos anos 80/90 e mais além um bocadinho, era a merenda preferida para a lancheira da escola. Alguém realmente acredita que simplesmente pararam de fabricar? Treta! A receita com certeza foi parar no buraco negro misterioso da fábrica. Fizeram imitações, mas nunca mais conseguiram o fantástico lanchinho Mirabel.

Resolvi botar a boca no trombone porque dia desses, minha sobrinha veio passar uns dias cá em casa. Chegou de Dublin, com uma malinha e uma escova de dentes amarela. Já lá se vai o tempo em que a parentela chegava de visita com mala e cuia pois hoje em dia, com os voos low cost a cobrarem pela bagagem de porão, só dá para uma malinha com três calcinhas e um casaco. Enfim, Luciana vem curtir um fim de ano lusitano com a velha tia e tudo está muito bem até que...sua escova de dentes amarela desaparece. Misteriosamente. 

Claro, compramos outra escova mas a curiosidade em saber como o objeto havia se evaporado do nada corroía o nosso cérebro. A pobre menina voltou para a Irlanda  com uma réplica da sua escova original, carregando as minhas promessas de que eu moveria mundos e fundos para encontrar a escova amarela sequestrada. 

3 meses se passaram e nada da escovinha aparecer. Coincidentemente ou não, nenhuma tesourinha de unhas apareceu nem o lanchinho Mirabel voltou ao mercado. Voltamos a falar no assunto, quando chegamos à conclusão de que o desaparecimento só poderia ter sido por obra de extra-terrestres que, obviamente, tinham intenções criminosas de fazer experiências com o DNA humano - no caso, da Luciana, tomar a forma humana e invadir a Terra. Conclusão mais óbvia, impossível.

Há quem acredite em coincidências. Há quem prefira Pepsi ao invés de Coca-cola. Eu sou das que pede Coca-cola mas, na falta, aceita a Pepsi, enfim, sou normalzinha. Coincidência para mim não existe. Minutos após minha conversa com Luciana, ao chegarmos à conclusão de que estávamos perante uma iminente invasão de ETs, o que é que eu encontro no quarto de hóspedes, debaixo da plataforma de exercícios que era suposto eu usar todos os dias para ficar em forma? Sim, amados. A escova amarela, na sua capinha amarela. Ah, e uma rolha, mas isso não vem ao caso.

Verónica Vidal - investigadora, colaboradora dos XFiles, caso eu desapareça misteriosamente, é porque fui abduzida. Nem vale a pena me procurar na área 51, isso só funciona com americanos. 51 para brasileiro serve só para juntar limão, açúcar e gelo.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

E por falar em Amor...

A renovação da vida sempre me fascinou. E cada dia mais. Somos todos sementes, somos todos transformados dia a dia. A vida nasce e morre, todos os dias. Jamais viveremos o ontem e o hoje é o amanhã que tão ansiosamente temíamos ou que tão desesperadamente desejávamos. O que realmente importa, o que realmente permanece, é o amor. Este sim, cresce e pulsa dentro de nós, transborda de tal forma que contagia os que estão à nossa volta, os que estão um bocadinho mais distante, mas sentiram a doce brisa que irradiamos. O amor é multiforme, ele se expressa no olhar, nas ações, nos cuidados e nos sorrisos, na aceitação de que não há ninguém perfeito e que cada pessoa é o que é e o conjunto das diferenças é que faz o bonito ser tão belo.

Dia 10 de Abril minha avó Alice completará, com a graça de Deus, 94 frutíferos anos. Desta vida rica e cheia de amor, foram gerados 8 filhos que lhe deram 20 netos e 16 bisnetos sendo o mais novinho deles o Pedrinho, nascido de fresco, com apenas 1 mês e cheio de amor para dar. Cada um com a sua porção de maridos ou mulheres e ali não há discriminação: Todos somos tios ou primos.

Já toda a família está alvoroçada em torno da festa de aniversário da vovó, num rebuliço só, onde todos falam de tudo ao mesmo tempo e acabam se entendendo mesmo assim. É que agora, a varanda da vovó foi transportada para o whatsapp. Ficamos ultramodernos e o papo da varanda precisava continuar, apesar das distâncias e das limitações de cada um, o amor deu um jeito de transpor esses limites e fez com que Brian Acton e Jan Koum criassem o whatsapp só para que nós continuássemos o nosso conversê - sorte deles, venderam o aplicativo e ficaram riquíssimos. Esse é o poder do amor!

Nós, os netos que tivemos o privilégio de crescer tendo a vovó a ajudar nos preparativos das nossas festinhas de aniversário, sabemos da importância e de toda a ansiedade gerada em torno da festa. Até mesmo as gerações mais novas, que já chegaram com os buffets e grandes eventos que substituíram o bolinho com guaraná, foram contaminadas pela sapequice da festa. Os agregados, que não nasceram da barriga mas que se amontoam nos espaços quentinhos do coração, já adoeceram da doença da festinha, que sempre vira um festão. E cada um leva um prato. Todos participam. A família ficou chique, a casa da vovó virou mansão. E Deus resolveu que era melhor recauchutar a saúde de quem não andava muito bem. Mandou tirar uma pedrinha daqui, desentupir uma veia ali, consertar um ossinho acolá, só para que a festa da vovó fique perfeita.  Pode ser difícil de imaginar, mas quem por lá passar, saberá que o que eu digo é verdade. A casa da minha avó é mágica. Pode ser que o riso que por lá ficou e nunca de lá saiu entranhou-se nas paredes trazido pelo vento que atravessava o pau-que-ri. É por isso que a casa brota vida e riso. É um bebê que nasce e outro que ensaia seus primeiros passos. É a tia que esqueceu sua história mas é tão cercada de carinho que a sua história de amor, essa não lhe deixam esquecer.

Vejo tudo de longe, mas não alheia. Minha avó hoje demonstra seu amor e aprovação com sorrisos e gestos. Sua voz cansada já nos aconselhou o suficiente e sua vida simples mostrou-nos a importância dos laços de carinho e zelo pelo exemplo. Sua grande família agora, espalhada pelo Brasil e fora dele, mantém-se acorrentada por doces e invisíveis elos de união, de desejo de estar junto, de um perdoar alguma coisa que se fez em nem se lembra o quê, de celebrar a vida, de amar. Amor é o cuidar daquela pessoa que temos ao nosso lado, e que já não nos pode ser útil fisicamente, muitas vezes nem intelectualmente. Mas cuidamos porque amamos, só por isso e nem mais. Não vamos receber um benefício fiscal nem uma herança nem uma medalha. Amor é perguntar no whatsapp: ela precisa de fraldas? Qual é o tamanho? Amor é fazer tudo isso e ser feliz.

Verónica Vidal - neta, filha, sobrinha, prima, esposa, mãe, etc... tenho um imenso orgulho da minha família, daquele pedacinho de céu, onde todas as tribos, povos e raças se reúnem para celebram a vida. Feliz aniversário, vovó!