tag:blogger.com,1999:blog-87259533801501896802024-03-05T12:39:01.969+00:00Verônica Vidal - contos e crônicas.Contos, crônicas, coisas...Coisas de mulher, coisas de menina, coisas de filha e coisas de mãe.Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.comBlogger105125tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-45812926827791178322024-03-04T16:27:00.001+00:002024-03-04T16:27:09.722+00:00Porque tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei o meu amor<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEI1TQN0ih0-nUyIaCzzePaq4NP4dIg2CG5KSxHsk3pcyyMVbtxrfM065KM10WIvOWhP9yEb73L7VY8QPzi-cBf5CeAhPseSSgtqA_0NrauPAs46WxMcZExXqngJDG-oshzdRzoDO2c3dfN70bEs8rpemvSoIBVg6QVzZLeNmZnAG2gF3-C-tou-_tdFE/s1440/Pedro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1440" data-original-width="1440" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEI1TQN0ih0-nUyIaCzzePaq4NP4dIg2CG5KSxHsk3pcyyMVbtxrfM065KM10WIvOWhP9yEb73L7VY8QPzi-cBf5CeAhPseSSgtqA_0NrauPAs46WxMcZExXqngJDG-oshzdRzoDO2c3dfN70bEs8rpemvSoIBVg6QVzZLeNmZnAG2gF3-C-tou-_tdFE/s320/Pedro.jpg" width="320" /></a></div>Querido Pedro,<br /><p></p><p>Quando o dia amanheceu hoje, nesta terra de marços frios e húmidos, o sol brilhava em meio ao nevoeiro. Eu acordei sentindo-me especial num dia muito especial. Já desde ontem sentia a ansiedade a bater no peito porque hoje completarias 1 aninho. E neste teu primeiro ano de vida tanto se passou, tanto aconteceu! Aprendeste a sentar, começaste a comer frutas e legumes, e carnes e peixes, e pães e bolos. Nasceram-te dentinhos e gatinhaste por toda a casa. Tens muitas horas de choro e mais horas ainda de risadinhas fofas que encantam a toda a gente. E durante todo este ano, vi-te crescer à distância, por relatos, por fotos, por vídeos e vídeo-chamadas. Estive contigo nos teus primeiros dias de vida e agradeço a Deus por aqueles dias preciosos. Doeu-me tantas vezes não estar aí contigo em vários momentos únicos. Mas sabe de uma coisa, Pedro? Aprendi que 'longe é um lugar que não existe' e que o amor transcende fronteiras e ultrapassa distâncias.</p><p>Eu amo-te só porque sim, amo-te porque sou tua avó Tua avó que mora longe e, se longe é um lugar que não existe, sou a tua avó que mora aí, junto de ti. Sou a tua avó que ora por ti todos os dias, pedindo a Deus que te proteja e te dê saúde e alegrias. Descobri em ti um amor gigante, diferente, profundo. Um amor de perpetuação, uma certeza do sempre. És o meu sempre, Pedrinho.</p><p>Para ti, desejo uma vida inteira de felicidade, de amor, de sabedoria e graça. Que do teu coração brote a bondade, que é o escudo para tudo o que há de ruim no mundo. Partilhe amor. Porque amor é dessas coisas que crescem muito quando são partilhadas. E eu amo-te até ao sempre.</p><p>Feliz aniversário, meu netinho lindo!</p><p>Vovó Verónica</p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-58046995386474533632023-04-15T16:02:00.003+01:002023-04-15T16:02:43.367+01:00A cria da cria<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEasp20c6OtCa-8g04mYCEVn8oy9iu2POJle9HSlzRRy0iI7KaJ4tytI_giLuRbmy3naeK8FfGD91Vdkm_yISDQqoRS1Ku1FDemD_EF1sKow1A-gH5OoI5jAxZ0koNn3m4MeYgq4LmHaXo6uga1NdavuFJP6kXjFwzmO9eGf1Y6XGfZlVRS7ZSsjhN/s515/ad03d6d78c9fefaabf6b47d4f706d7d3.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="515" data-original-width="327" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEasp20c6OtCa-8g04mYCEVn8oy9iu2POJle9HSlzRRy0iI7KaJ4tytI_giLuRbmy3naeK8FfGD91Vdkm_yISDQqoRS1Ku1FDemD_EF1sKow1A-gH5OoI5jAxZ0koNn3m4MeYgq4LmHaXo6uga1NdavuFJP6kXjFwzmO9eGf1Y6XGfZlVRS7ZSsjhN/s320/ad03d6d78c9fefaabf6b47d4f706d7d3.jpg" width="203" /></a></div><br /> Ainda no outro dia eu te sentia dentro de mim. Sentia a tua vida misturada à minha, sem começo e sem fim. Sabia entretanto que o dia chegaria. O dia em que te separarias de mim. Queria ver-te crescer, queria ver-te vencer, mas queria manter-te dentro de mim. E neste misto de querer, tu quiseste nascer e te apartaste de mim.<p></p><p>E eu te levava nos braços, apoiava-te nos teu primeiros passos, enquanto tu corrias para longe. E te foste. Senti tua falta, senti. </p><p>Uma vida se formava dentro de ti, que era a minha vida. Vida dentro de outra e dentro de outra, como um caleidoscópio de amor pulsante, batimentos cardíacos, movimentos constantes. Tua vida cresceu, espigou-se, saiu de dentro de ti. Minha vida dava vida, minha vida alimentava vida. Num misturar de mãos e dedos, de bocas e peitos, eu já não mais encontrava lugar ali, e, tão desnecessária estava, tão longe, que parti. Levei tempo para ocupar meu lugar de expectadora de ti. Ainda calco o chão, ainda dou passos vacilantes, como se só agora eu aprendesse a andar.</p><p>Um amor diferente brotou dentro do meu peito. Um amor mais doce, mais livre, sem medos e sem exigências. Uma certeza de sucesso, de perfeição, como se aquele perfume eu já tivesse sentido, como se aquele livro eu já tivesse lido. O livro bom, o perfume suave. </p><p>Sei que vais sofrer todas as dores da incerteza, vais verter todas as lágrimas amargas da maternidade dorida, de um amor impossível e sem medida, de um medo constante e terrível. Mas também sei que vais experimentar a felicidade plena, a continuidade da tua própria vida em cada sorriso desdentado, em cada passinho cambaleante, em cada desenho em giz de cera. E eu estarei aqui, expectante e mentirosa, a falar constantemente da minha alegria em te ver crescer com sucesso e longe de mim, quando tudo o que eu mais quero é te pegar no colo, segurar tuas mãos e ajudar-te a caminhar. Mães mentem quando soltam as rédeas do filho. Mães nunca as soltam. </p><p><span style="color: #ff00fe;"><b>Verónica Vidal</b></span></p><p><span style="color: #2b00fe;"><b>À minha filha Camila, mãe do Pedro, que começa agora a experimentar os sorrisos e as lágrimas dessa mágica chamada maternidade.</b></span></p><p><br /></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-64314961353663842022022-11-07T14:15:00.000+00:002022-11-07T14:15:21.380+00:00É um vazio que ocupa imenso espaço<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxDIlBEjnv57q-ZFw048mTBE5Zptzkopys65aqMiXZ7WR8GmWcVQtvSKY9MRssZbLE-cfE8pHiXBjb2YL2-5JNdtPuvwgtZXK3OHV-F8PQJxbk9xJHr6QMLWYRiCqJrQDhpby-ZaSxS6UlI1VCJrZsi2FiXUluo-c9XGBjmha1s4Czeb1VhaQIQlg4/s720/f1870e000ce214d106fb498199abcc80.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="461" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxDIlBEjnv57q-ZFw048mTBE5Zptzkopys65aqMiXZ7WR8GmWcVQtvSKY9MRssZbLE-cfE8pHiXBjb2YL2-5JNdtPuvwgtZXK3OHV-F8PQJxbk9xJHr6QMLWYRiCqJrQDhpby-ZaSxS6UlI1VCJrZsi2FiXUluo-c9XGBjmha1s4Czeb1VhaQIQlg4/s320/f1870e000ce214d106fb498199abcc80.jpg" width="205" /></a></div>Não nos despimos do luto, ainda que não nos vistamos de preto. <p></p><p>Não nos despimos do luto, ainda que celebremos a vida. </p><p>Nosso luto fica cravado na alma, acumula-se junto às outras perdas dolorosas. A dor da perda não é mensurável, não pode ser comparada, não dói mais em mim do que em ti. Nascemos para a vida eterna e é simplesmente natural que não aceitemos a morte. O amor sobrevive ao fim da carne, ele continua mesmo após o último suspiro do ser amado. E não o teremos mais conosco.</p><p>Somos massa maleável, moldados por tantas coisas na vida. Nossos pais, o ambiente em que crescemos, a sociedade em que vivemos, a escola que frequentamos, os livros que lemos, as músicas que ouvimos, as pessoas que cruzaram os nosso caminhos, cada um, cada pequeno evento ajudou a construir o que somos hoje.</p><p>A minha avó foi uma grande influenciadora na minha vida. Com ela aprendi que choramos o que temos que chorar, porque amanhã a vida nos trará algum motivo para comemorar. Aprendi mas pouco usei. Sou egoísta, queria-a para sempre. </p><p>Dela eu ouvi a primeira história do casamento da D. Baratinha. E foi a sua versão da história que eu contei para as minhas filhas e para os meus netos. Ainda sinto o cheiro e o sabor das empadinhas de queijo que só ela sabia fazer. Mentira, minha mãe também sabia, mas era receita da vovó. Talvez eu me agarre a uma meninice que todos sabemos que nunca mais voltará, mas assim é e eu não quero me soltar. Quero dormir e acordar com as lembranças do convívio com a minha avó. Das tardes ensolaradas e de brisa fresca nas areias de Iguaba. Das noites de Natal e do especial do Roberto Carlos, do relógio a badalar as doze horas e de toda a gente a se abraçar. Das festas juninas com o mesmo disco a tocar sem parar e os primos a acender o balãozinho japonês.</p><p>E disseram-me, com aquela tranquilidade de quem não se importa, que a minha avó já havia vivido por 101 anos. Que era muito. E disseram-me que eu sou adulta e vivo longe, e que isso era bom, diminuiria o meu sofrimento. E meu egoísmo não me permite pensar assim. Minha avó não tinha idade nem distância, tinha uma presença etérea que não se desfazia. Eu não herdei a sua força. Eu não herdei a sua capacidade de superação. Eu quero me enrolar debaixo dos cobertores e chorar a sua partida. Eu tenho 55 anos e não tenho avó, não sei o que fazer.</p><p>A morte da minha avó dividiu-me em duas: Na mulher forte que quer honrá-la e brindar a tudo o que foi a sua maravilhosa vida, e na menina pequena, órfã, perdida e sem rumo. Sei que hei de passar por mais esta perda, que hei de sorrir e de chorar e que só as boas lembranças ficarão, porque este é o preço que a vida nos cobra.</p><p>Verónica Vidal<br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-59636624188320712442022-04-11T16:46:00.002+01:002022-04-11T16:46:41.168+01:00A Vóternidade aos 101<p> </p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1_6_1kZzPVheGSGSn87iz4fUWIMCRRAtnfzomn9GFPpFKoaKNdnesEt8b9eIeJlGr514WK9l5MwMutYM13XD3bCDVRvliS1-5aMwUwoHek3L-vhnWj_7aauuB4eqWy7Ns0tLGONwfZKZfYe3bZc2-iDy1otcyg6g6rjFQGPNgfkLzv6ixdOG-FWQK" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="848" data-original-width="452" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1_6_1kZzPVheGSGSn87iz4fUWIMCRRAtnfzomn9GFPpFKoaKNdnesEt8b9eIeJlGr514WK9l5MwMutYM13XD3bCDVRvliS1-5aMwUwoHek3L-vhnWj_7aauuB4eqWy7Ns0tLGONwfZKZfYe3bZc2-iDy1otcyg6g6rjFQGPNgfkLzv6ixdOG-FWQK=w171-h320" width="171" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">101 anos de vovó Alice</td></tr></tbody></table><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Na minha cabeça, a minha avó
Alice já nasceu avó. Sempre foi assim e assim seria para sempre. Só depois de
muitos anos, quando eu me tornei avó, percebi que não existe uma palavra que
defina essa transição. Para as mães, temos a maternidade, para os pais, a
paternidade, mas e para as avós? <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A vóternidade, assim, com acento
agudo, palavra impossível na nossa língua, é vivida de forma intensa, ainda que
sutil, pela minha avó Alice. Ela foi se tornando mais avó à medida que mais
netos lhe nasciam, de tal forma que a sua vóternidade é hoje majestosa,
imperial. Rio-me às gargalhadas quando atribuem longevidade ímpar à Rainha da
Inglaterra, com apenas 95 anos. Minha avó Alice, na simplicidade dos seus 101
anos não alardeia fama, mas é a pessoa que governa a família inteira com um
sorriso nos lábios e ao som de um Michel Teló na TV. E, convenhamos, a minha
família mágica é muitíssimo mais importante do que toda a Grã Bretanha. Somos
mais bonitos, mais simpáticos, mais divertidos e os nossos protocolos reais são
seguidos sempre à risca: Há sempre festa. Não importa como ou quando,
celebraremos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Hoje, nos dias em que a vida me
corre ao avesso, lembro-me da minha avó, ainda outro dia, a ouvir Roberto
Carlos, sorrindo, de frente para a TV e sentada na sua cadeira de rodas. Ela
dançava com os braços, e assim dizia-me que é importante que sejamos felizes
com o que temos. E todas as minhas preocupações que então pareciam enormes,
diminuíram de tamanho até que se desvaneceram totalmente. Vovó sempre ensinou-me
sem palavras. E eu sigo o exemplo da minha avó Alice. Porque Deus não permite
que uma pessoa complete 101 anos se a sua sabedoria não for superior à de todos.
Minha avó Alice sabe das coisas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Fui construída com as memórias
que me ficaram gravadas no coração, feito tatuagem, para nunca mais saírem. De
todas as minhas memórias a casa da minha avó lá está, viva, pulsante,
barulhenta e cheia de amor. A minha família ganhou um nome, “a casa da minha
avó” e ela é mesmo assim, um oásis de amor em meio a um mundo tumultuado. Cada
vez mais espalhados pelas terras deste mundo, as sementes da minha avó derramam
lágrimas de saudades, gargalhadas de alegria, abraços e beijos, tudo ao mesmo
tempo. Oramos fervorosamente a Deus e contamos anedotas menos pudicas quase que
na mesma frase. E é a minha avó Alice quem tudo orquestra, como se de longe
estivesse, mas está tão imiscuída dentro de cada um de nós que já fica difícil
separar quem somos, porque somos todos “a casa da minha avó”: Cada um de nós
tem um pedaço dos natais, das festas, dos desempregos, das crises, dos
casamentos, dos nascimentos, do tio Tão, do tio Jara e do papai, da Andréia e
da tia Tete, da tia Leca e da mamãe, do avô Moacir e da Tide. Somos muitos, mas
somos um só. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Feliz aniversário, vó. Confesso
que ainda tenho ciúmes de ti, sei que é uma coisa infantil, às vezes queria ser
a única neta. Mas no fim das contas sei perfeitamente que todos nós somos tu,
vó. Confesso também que era eu que roubava o amendoim do topo dos cajuzinhos,
mas isso é outra história. Beijo.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;"><b>Verónica Vidal</b></span></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-5597863056675603122021-10-28T18:05:00.001+01:002021-10-29T16:46:17.753+01:00Somos Tão Bons<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1K0NJ__NQrr3_AoDqCGxqLAQXzQ32lwQ5piX72mq2sxIkiKEwK0-COEqqkCae24KBD9jzzSgXU-Iq2KBj3-rARKCHuqv9CI4PB7n3vXs6kz_tf4E0PnHEH2CZdLpJmHte6YjkYHY5hn4/s752/4053ca058d2e980a1de8315da1317d15.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="752" data-original-width="564" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1K0NJ__NQrr3_AoDqCGxqLAQXzQ32lwQ5piX72mq2sxIkiKEwK0-COEqqkCae24KBD9jzzSgXU-Iq2KBj3-rARKCHuqv9CI4PB7n3vXs6kz_tf4E0PnHEH2CZdLpJmHte6YjkYHY5hn4/s320/4053ca058d2e980a1de8315da1317d15.jpg" width="240" /></a></div>Somos pessoas tão boas, não somos? <p></p><p>Mentira. </p><p>Somos seres corruptos. Gostamos de parecer mais importantes do que realmente somos. Porque a nossa mediocridade não nos satisfaz. Mas a nossa preguiça em aprimorarmo-nos, seja lá no que for, é maior. Então mentimos. Ou falseamos a verdade. Induzimos o outro a nos julgar mais poderosos, mais inteligentes, mais estudados. Contraímos empréstimos para pagarmos o carro que nossos rendimentos não nos permitem ter, usamos maquilhagem para parecermos mais jovens, cintas para parecermos mais magros.</p><p>E vamos à igreja aos domingos. Sim, porque somos praticamente santos. O pináculo da criação. Ou não vamos à igreja porque a religião é corrupta e alardeamos que somos contra a corrupção. E sonegamos impostos. </p><p>Repassamos posts nas redes sociais, revoltados com a fome na África e com a exploração infantil na China. E usamos as roupas fabricadas pelas pequeninas mãos exploradas pela indústria da moda, que reduzem seus custos à custa do sangue e da fome alheios. E escolhemos a alienação. Não vimos, não sentimos. A crítica serve para o outro e a desculpa serve para nós. </p><p>Dizemos que sim, amamos os animais. Comemo-los porque somos onívoros. É a indústria que os tortura. Mas mantemos o nosso cão acorrentado no quintal, preso dia e noite, no verão e no inverno, por toda a vida. A ele, damos os restos da nossa comida. E tiramos fotos do nosso amigo, e sorrimos e nos sentimos benfeitores, porque este cão foi acolhido por nós, tem um lar. </p><p>Revoltamo-nos quando descobrimos que um amigo nos criticou pelas costas. E criticamos impiedosamente este mesmo amigo, o vizinho, o cliente, o patrão, o empregado. Porque a falha do outro enaltece-nos. Nós não somos maus como os outros. Somos pessoas tão boas.</p><p>Verónica Vidal</p><p><br /></p><p><i><span style="font-size: x-small;"><span color="rgba(0, 0, 0, 0.87)" face="Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; letter-spacing: 0.14994px;">Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.</span><br style="box-sizing: inherit; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; letter-spacing: 0.14994px;" /><span color="rgba(0, 0, 0, 0.87)" face="Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; letter-spacing: 0.14994px;">O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.</span><br style="box-sizing: inherit; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; letter-spacing: 0.14994px;" /><span color="rgba(0, 0, 0, 0.87)" face="Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; letter-spacing: 0.14994px;">Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.</span><br style="box-sizing: inherit; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; letter-spacing: 0.14994px;" /><span color="rgba(0, 0, 0, 0.87)" face="Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; letter-spacing: 0.14994px;">O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!</span><br style="box-sizing: inherit; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; letter-spacing: 0.14994px;" /><span color="rgba(0, 0, 0, 0.87)" face="Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; letter-spacing: 0.14994px;">Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado. (Lucas 18:10-14)</span></span></i><br style="box-sizing: inherit; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; letter-spacing: 0.14994px;" /><br /></p><p><br /></p><p><br /></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-44834466818548893982021-05-17T16:26:00.002+01:002021-05-17T16:26:31.798+01:00Nasce uma Estrela ou... um Escritor<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: left;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKi4ltR4Xbjp03K51e1GpabozZIAGu0cBhz5cDE_euQbcCnvGlve4KMKUioYPjLE_q7XNqIiBC7wo-xta5MAJG66tGrbGCu6wKzGuOHMS8SMkY501hyphenhyphen2aOpFFPEHSAjdILjRnnxQINZWU/s608/260d0a8995654b40889abbf721b139f8.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="608" data-original-width="400" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKi4ltR4Xbjp03K51e1GpabozZIAGu0cBhz5cDE_euQbcCnvGlve4KMKUioYPjLE_q7XNqIiBC7wo-xta5MAJG66tGrbGCu6wKzGuOHMS8SMkY501hyphenhyphen2aOpFFPEHSAjdILjRnnxQINZWU/w264-h400/260d0a8995654b40889abbf721b139f8.jpg" width="264" /></a></div><p></p></blockquote><p style="text-align: left;"><br /></p><div style="text-align: justify;"> Já há cerca de um ano tenho este texto aqui meio escrito mas, por uma questão de elegância, fiquei à espera que primeiro o autor da obra abrisse a apresentação do seu livro. E já lá está, conhecido do grande público, o novo livro do Pedro Guimarães, "Criadores de Estrelas".</div><p></p><p style="text-align: justify;">Não guardo segredo nenhum que, vez por outra, sou acometida de paixões lancinantes por alguns escritores. Sou mulher eclética e sem preconceitos e, do mesmo jeito que me apaixono por Isabel Allende ou Margaret Atwood, morro de amores por Valter Hugo Mãe, Saramago e Murakami Às vezes tenho até um certo receio de ser acusada de <i>stalker </i>ou qualquer coisa assim. Minha sorte é que muitas vezes o objeto da minha paixão já está morto e bem morto há muitos anos e a única coisa que eu persigo são mesmo livros. Livros não nos processam por perseguição.</p><p style="text-align: justify;">Conheci o Pedro Guimarães - é, agora sou assim, tu cá, tu lá com o senhor - na apresentação do seu primeiro livro, "O Diário de um Morto", que me proporcionou grandes momentos de gargalhadas descontroladas e aquela cara estampada de tonta que só um leitor sabe que faz quando está imerso numa obra. Sim, caro amigo aficionado pela literatura: Você também faz uma cara peculiar quando mergulha numa obra assim, descuidadamente, em público. Pois bem, o então autor Pedro acabou por lançar um outro livro, igualmente delicioso e facilmente devorável, o "Crianças, Bichos e outros Patifes".</p><p></p><div style="text-align: justify;">Ocorre que, a dado momento, escrever caiu-lhe no gosto e o senhor lá decidiu-se por lançar outra obra. Desta feita, não mais na primeira pessoa, mas um livro de mistério, romance e assassinatos, não necessariamente nesta ordem. E lança o "Criadores de Estrelas". Como já havia sido fisgada, li-o, claro. E durante o desenrolar da história, começo a perceber, no avançar das páginas, o nascimento de um escritor. Lembrei-me da personagem da Lady Gaga no filme (mentira, lembrei mesmo foi do Bradley Cooper, mas isso é outra história). Aquele que antes era autor de boas histórias, que contava experiências vividas na pele - dele próprio ou de outrem -, inicia agora a construção de um mundo imaginário, ainda que real. Entretanto, conseguiu manter a doce assinatura que fez com que nos apaixonássemos pela sua escrita. Se nos dois primeiros livros ele declara o amor pelas suas raízes, pela sua mulher e pelo seu neto, neste o Pedro declara o seu amor pela cidade de Coimbra. Os personagens passeiam pelos recantos da cidade e arredores e, de brinde, somos nós também transportados. Sem uma gota de pretensão, mantendo a linguagem simples e a narrativa direta que acabou por se tornar a sua assinatura, Pedro Guimarães deixa, com este livro, de ser um contador de histórias para ser um escritor. Presenteia-nos com uma crônica policial, meio ao estilo Rubem Fonseca, meio a jeito de conversa, que nos agarra às páginas, nos alimenta. Livro bom é aquele que agrada e Criadores de Estrelas agrada, põe-nos um sorriso de satisfação na cara. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i style="text-align: left;"><span style="color: #783f04; font-size: x-small;">"<span style="font-family: Helvetica, Arial, sans-serif;">O que realmente me impressiona é um livro que, quando você acaba de lê-lo, você deseja que o autor que o escreveu fosse um amigo incrível seu e que você pudesse ligar pra ele quando sentisse vontade." - J.D. Salinger (O Apanhador no Campo de Centeio(BR) /Uma Agulha no Palheiro(PT))</span></span></i></div><div style="text-align: justify;"><i style="text-align: left;"><span style="color: #783f04; font-size: x-small;"><span style="font-family: Helvetica, Arial, sans-serif;"><br /></span></span></i></div><div style="text-align: justify;"><i style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Helvetica, Arial, sans-serif;"><b>Verónica Vidal</b></span></span></i></div><p></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-766355069886718512021-02-01T19:26:00.000+00:002021-02-01T19:26:20.692+00:00A vida a preto e branco<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyFeQsPchZUTpEyhemb2Pf_t-lWKe0u1Eg3H2AA5iP6_BAXS8tmD4GuQZ1OEENcK28apI5vNURDFAZnGzn9hNrCdG3tcJiO_9qD4mJt6VxCXbefXadNLg5RR-1evZsVBUuODblGJ6T0Bg/s500/1-GALERIE-MIRANDA-c-Fernand-Fonssagrives-courtesy-Galerie-Miranda-The-Eye-1954-500x350.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyFeQsPchZUTpEyhemb2Pf_t-lWKe0u1Eg3H2AA5iP6_BAXS8tmD4GuQZ1OEENcK28apI5vNURDFAZnGzn9hNrCdG3tcJiO_9qD4mJt6VxCXbefXadNLg5RR-1evZsVBUuODblGJ6T0Bg/s320/1-GALERIE-MIRANDA-c-Fernand-Fonssagrives-courtesy-Galerie-Miranda-The-Eye-1954-500x350.jpg" width="320" /></a></div><br /> Tenho saudades de mim mesma. Saudades de um eu que cá está mas que já não se mostra. Saudades de uma vida que a mim me sorria e eu para ela sorria de volta. Saudades de uma inocência que nunca mais voltará.<p></p><p>O passar do tempo cura feridas mas abre crateras. Aumenta distâncias, desfaz mitos, deixa cicatrizes e molda-nos o sorriso. Geralmente o rouba de nós. Vejo crianças muito felizes, a saltar poças d'água, a brincar nos baloiços. Vejo adolescentes em bando a rir de um tudo e de um nada, a criar uma linguagem única. Vejo jovens casais enamorados, a tocarem-se, a abraçarem-se, a sorrir. Vejo adultos preocupados com as contas da vida. Mudos. Vejo velhos tristes, à espera da morte. Estáticos. E pergunto-me o porquê. Quanto mais o tempo passa, menos sorrisos vemos nos rostos dos que vivem, menos vida vemos nos rostos dos que esperam diligentemente pela morte. A vida se descortina aos poucos e vai se mostrando, nua, seca. As cores, antes tão suaves e doces se vão escurecendo, acinzentando-se, perdendo o brilho. O céu, outrora azul, torna-se plúmbeo. E ainda tentamos, escavamos em busca da alegria da meninice, da inocência do antigamente, num eterno faz-de-conta-que-eu-não-sei, na vã tentativa de uma felicidade mentirosa. Boa. E falsa. </p><p>De tanto escavar, cansamos. E vestimos as nossas vestes cinzentas. E esperamos a morte chegar.</p><p><b>Verónica Vidal</b></p>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-73764049976575944442020-08-12T11:58:00.000+01:002020-08-12T11:58:12.006+01:00Pedaços de mim<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyjDfc4P1DbJExCfmoxMrdJz2WC2Np3ADFFYxGkl_cV0mVH8DCMgruhdIqlqI_3RJHcLNzE0XwqMvdkCNpijG_EZ15O1Tb7rHMB0bhKkU3K4V0xu8BIHICGliRIIPTDhjNalr3f_U3bo4/s480/tristeza-despetalando-ao-vento2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="472" height="246" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyjDfc4P1DbJExCfmoxMrdJz2WC2Np3ADFFYxGkl_cV0mVH8DCMgruhdIqlqI_3RJHcLNzE0XwqMvdkCNpijG_EZ15O1Tb7rHMB0bhKkU3K4V0xu8BIHICGliRIIPTDhjNalr3f_U3bo4/w242-h246/tristeza-despetalando-ao-vento2.jpg" width="242" /></a></div><div style="text-align: justify;">Vou deixando pedaços de mim pelos caminhos da vida. Mutilo-me a cada mágoa, a cada tristeza, a cada golpe. Meus olhos vêem hoje diferente de como viam dantes. As cores do verão são a cada dia mais cinzentas e é-me difícil sorrir da mesma forma que sorria antes. A neve das terras altas, dantes tão imaculadamente branca, é hoje lamacenta do degelo. As flores dos vasos desapareceram e o verde das folhas amarelaram. </div><p></p><p style="text-align: justify;">A lama sempre lá esteve. As folhas ressequidas sempre estiveram misturadas às verdejantes. Mas meus olhos nunca a viram. Eu admirava com prazer o colorido das flores que hoje não mais existem. Sou o resultado de tudo aquilo que permiti que me influenciasse, que me encantasse, que me tocasse o sentimento. E fechava os olhos para o inverno da vida a fim de me convencer de que o sol brilharia sempre, só porque era esse o meu desejo. O choro era de outrém. A dor nunca foi minha. </p><p style="text-align: justify;">Felicidade é um estado de espírito que pede cultivo. E eu a alimentava com alegria, com a vitória do outro, com a boa disposição para o mundo. Adubava a minha felicidade com o sopro do vento, com a esperança de vida. Tentava injetar amor sozinha, como quem se droga, para não ver a falta de amor que rondava à minha volta. Mas a vida é como tempestade: assola-te sem piedade, derruba-te se insistes em ficar de pé. Anula-te, só para mostrar que é assim que deves viver, que é isso o que mereces, o nada. E aceitei. E o véu se descortinou de diante dos meus olhos e vi. Vi a fealdade da vida, os excrementos dos vizinhos, senti o cheiro fétido do ar. Ouvi a maledicência que saía da boca do sacerdote, senti a faca que se enfiava nas minhas tripas pelas mãos dos que eu dizia amar, notei os vergões de chicote nas minhas costas, os grilhões que prendiam os meus pés, numa escravidão torturante e silenciosa. </p><p style="text-align: justify;">Hoje arrasto as minhas correntes pela casa, feito alma penada. Ainda penso em fingir felicidade, mas perdi o jeito, esqueci o texto e desisto. Espero que as semanas passem rápido, que os meses se atropelem que a vida se finde. </p><p style="text-align: justify;"><span style="color: #ff00fe;"><b>Verónica Vidal</b></span></p><p><br /></p><p><br /></p><br /><br />Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-1629260595155930822020-04-11T18:20:00.000+01:002020-04-11T18:20:08.090+01:00O Amor em Tempos de Covid<div style="text-align: justify;">
10 de Abril de 2020. É Sexta-feira Santa.</div>
<div style="text-align: justify;">
A maior parte do mundo está de quarentena, encerrada em casa. A humanidade está enferma.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgufaQbnlUi_K9p1Uj4ik_0ZVFnSjfOgvWdnpsnKRx8724mHJsNp5PSe08kO0svL8eTzmAtPX0xhY6tBf5te1ewzmRMJO6Drj5FFsREyXD3E3nm8n0UOdoIqkvFGLjTU4DH_TX8_xs5cRI/s1600/Untitled+collage.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgufaQbnlUi_K9p1Uj4ik_0ZVFnSjfOgvWdnpsnKRx8724mHJsNp5PSe08kO0svL8eTzmAtPX0xhY6tBf5te1ewzmRMJO6Drj5FFsREyXD3E3nm8n0UOdoIqkvFGLjTU4DH_TX8_xs5cRI/s320/Untitled+collage.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos choram e lamentam os seus mortos. Outros bravos nascem em meio à pandemia que se instalou. Mas para a minha família há um motivo especial de celebração: É o aniversário da minha avó Alice.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E foi assim que celebramos os 99 anos da minha avó: Cada um da sua casa, tateando uma tecnologia que ainda é nova para muitos mas que nos fez ficar juntos por deliciosos minutos. E lá fomos nós, superando as dificuldades de vídeo, de áudio, juntarmo-nos para cantar os parabéns à avó Alice e revermo-nos um bocadinho. E toda a gente falava ao mesmo tempo, tal e qual a varanda da casa da minha avó. E tantas gerações ali se juntaram, tantas famílias ali reunidas, pura e simplesmente por amor. E minha avó nos via, a todos, e sorria, e demonstrava uma felicidade genuína, simples, de quem está acostumada a ver os anos passarem e as mudanças da vida transformarem tudo, até mesmo as festas de aniversário. E fizemos as fotos mais feias de toda a história dos encontros. Só que mesmo nessa imensa bagunça de rostos misturados e captados numa fealdade hilária e torta, com cabeças cortadas e imagens desfocadas, vê-se uma alegria quase palpável, uma felicidade que grita.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A minha família não tem uma árvore genealógica. É formada por um jardim genealógico, posto que outras árvores entrelaçaram seus ramos na nossa, de tal forma que nos é praticamente impossível definir a origem de todos. Eu tentava explicar à minha filha quem era quem, filho de quem, neto de quem e perdi-me no meio do caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha avó atravessa uma estrada pedregosa há 99 anos. Pelo caminho precisou despedir-se de dois maridos, quatro filhos e uma neta. Enfrentou doenças complicadas e cirurgias perigosas. Nunca, nunca deixou-se vencer pelas perdas. E talvez seja por isso que a celebração de cada aniversário dela tenha uma importância agigantada para nós. Muito mais do que um aniversário, celebramos a vida, o amor, a família, as raízes, a aceitação do outro. D. Alice nunca foi mulher de grandes e célebres frases, mas sim de grandes e indeléveis atitudes. E o bem contagia. Contagiou-nos a todos. Somos uma família do bem, um jardim de amor. A humanidade precisa de mais avós Alice espalhadas por aí. E assim, ela será curada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b style="color: magenta;">Verónica Vidal </b>- tentando levar a vida com a mesma positividade da avó. </div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-86785923328028093612020-01-29T12:09:00.000+00:002020-01-29T12:12:19.628+00:00Amar desmesuradamente - Crianças Bichos e Outros Patifes<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4pJmbpn5KPrMNQp2d7Irr_o1LavHBoAGcsnIYNvYKgfFxwzLw4Q589vo9UFvypf1AnS4c1EGwtJtjxU5c2hXnpUqUpz_ScROIocZ1lfcA5-zW6fg9kiDIchJPpLkSxJYh2Ax77g1oW8E/s1600/IMG_20200129_111308.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4pJmbpn5KPrMNQp2d7Irr_o1LavHBoAGcsnIYNvYKgfFxwzLw4Q589vo9UFvypf1AnS4c1EGwtJtjxU5c2hXnpUqUpz_ScROIocZ1lfcA5-zW6fg9kiDIchJPpLkSxJYh2Ax77g1oW8E/s320/IMG_20200129_111308.jpg" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Livro do acervo de Verónica Vidal</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Não é segredo para ninguém que eu seja amante de livros. Tenho os meus gostos particulares, mas em geral sou até bastante eclética. Mas é que, como toda a gente que tem as suas manias, eu tenho cá as minhas. Quando apaixono-me por um autor, leio tudo o que brota ou já brotou das suas ideias e assim a minha estante vai se enchendo de nomes. É assim com Valter Hugo Mãe, Haruki Murakami, Margareth Atwood, Saramago, Eça de Queirós, Garcia Marquez, os Kepler, Isabel Allende e por aí vai.<br />
<br />
Cada um dos autores me foi apresentado de forma diferente. Uns por livreiros, outros foram presentes de amigos, uns tantos caíram nas minhas mãos ao fuçar na livraria.<br />
<br />
Até que eu fui à apresentação de um livro, aqui em Coimbra, autor local. "O Diário de um Morto", de Pedro Guimarães. Apaixonei-me pelo livro. Ou melhor, apaixonei-me mais especificamente pela narrativa, o que conferiria ao escritor um lugar de destaque na minha estante e a certeza de que seu livro seria lido umas duas ou três vezes. Problema: Era o primeiro livro do escritor e eu não teria mais nada dele para ler. Sem remédio, tive então que aguardar o próximo. Quem gosta mesmo da linguagem de um autor e tem prazer em ler, sabe bem do que eu falo. Vamos lendo um livro e outro, e outro, mas temos aquele fisgado, o objeto do nosso desejo, à espera de sair do forno. E, quando sai, vamos cheios de espectativas devorá-lo. E assim foi.<br />
<br />
"Crianças, bichos e outros patifes" conta-nos as peripécias de um menino desde o seu nascimento até à maturidade dos seus sete anos, na convivência com o seu avô e restante família, incluindo cães, gatos e caracóis. Mais do que a vida de uma criança, lê-se nas entrelinhas o amor desmesurado de um avô. É um livro escrito como se de um diário se tratasse, como se tivéssemos a cavucar num baú e lêssemos a vida do outro, em condições tão parecidas com as nossas próprias. Impossível não nos identificarmos em várias das situações. Completamente despretencioso, numa linguagem fluida, leve, como uma conversa na varanda, o livro é um refresco para a alma. Faz-nos rir e esquecer que a conta de luz está pela hora da morte, o combustível aumentou e que agora temos que tomar medicação para a tensão alta.<br />
<br />
A má notícia: Por enquanto só vende aqui em Portugal. Vocês terão que me vir visitar.<br />
<br />
<b style="color: magenta;">Verónica Vidal </b>- única proprietária do livro da foto, um bocado para o amassado pelas andanças da vida.Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-30306956675224434442019-11-06T12:53:00.002+00:002019-11-06T12:53:45.259+00:00Bom Sucesso para os Filhos do Ruy Barbosa!<br />
<h3>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXCAtKpaD6xpALjkiYZ8qw3GAqAJ8CseJwxUoUtu-ozXJTNtpReiH4oO-Rqnze89BvI0CiYzS_fEnOBCSmeyPNzOdFsg1iYh5lrycJJtuhBQWott8dGdcZ11jIgfyJTD_qu72KLvu7d4k/s1600/images1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="195" data-original-width="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXCAtKpaD6xpALjkiYZ8qw3GAqAJ8CseJwxUoUtu-ozXJTNtpReiH4oO-Rqnze89BvI0CiYzS_fEnOBCSmeyPNzOdFsg1iYh5lrycJJtuhBQWott8dGdcZ11jIgfyJTD_qu72KLvu7d4k/s1600/images1.jpg" /></a><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 20px;">"Amigo é coisa para se guardar n</span><span style="font-size: 20px;">o lado esquerdo do peito, </span><span style="font-size: 20px;">mesmo que o tempo e a distância digam não", </span><span style="font-size: 20px;">mesmo esquecendo a canção. </span><span style="font-size: 20px;">O que importa é ouvir a</span><span style="font-size: 20px;"> voz que vem do coração." </span>(<i style="font-size: 20px;">Canção da América - </i><i style="font-size: 20px;">Milton Nascimento</i><i style="font-size: 20px;">)</i></span></h3>
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
<span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">Não se pode mensurar o amor que sentimos pelos amigos. Não se pode apagar a amizade cultivada na infância, aquela que invade a adolescência e, ainda que se pareça perdida na vida adulta, explode em milhões de cores quando tocada de volta.</span><br />
<span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">Eu tive o imenso prazer de receber uma das minhas amigas de infância. Foi impossível não lembrarmos de tempos, para mim os melhores da minha vida, onde a inocência, as brincadeiras e </span><span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">os risos reinavam sempre, como parte do dia a dia. Naquela época não sabíamos a importância que isso teria nas nossas vidas. Não sabíamos que ainda lembraríamos com saudades do tempo em que corríamos desesperadas para não levarmos com um ovo pela cara, atirado por um qualquer delinquente, provavelmente nosso colega de turma. E tínhamos nossos professores preferidos, os que aturávamos e os que odiávamos. Hoje, lembro com carinho de todos eles. Mas os pontos altos do nosso dia a dia eram a hora do recreio e os tempos vagos. Pular elástico, jogar pião de fieira, escrever no "caderno de perguntas", segredar à amiga a nossa última paixão, ah, sim, esses eram momentos de puro deleite. E lembramos disso tudo e ainda mais.</span><br />
<span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">Vanda, a minha amiga, chega cá em casa de mala e coração cheios. Não parecia em nada que já não nos víamos há mais de 15 anos. Imediatamente a ligação com o grupo remanescente do Ruy Barbosa se refez, e recebi as novidades sobre cada um. Crescemos e ficamos gente grande, fizemos faculdades e arranjamos empregos importantes, tivemos filhos e maridos e mulheres e cães e gatos. Mas seremos sempre cria do Ruy Barbosa. Cantaremos o samba "</span><span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">♫</span><span style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif;">Natal, perdeu seu braço na Central...♪", vestiremos as nossas roupinhas de baiana azul e branco e nos apresentaremos à vida, regidos pela D. Jurema.</span><br />
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i><span style="color: magenta; font-weight: bold;">Verónica Vidal </span>- </i></span><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;"><i>ex-aluna do Ruy Barbosa, ex-patrulheira, ex-monitora de turma e detentora das melhores lembranças que uma infância pode trazer. </i></span><span style="font-family: "Trebuchet MS", sans-serif;"><i> </i></span><br />
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
<i style="font-family: Roboto, Arial, sans-serif; font-size: 20px;"><br /></i>
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Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-32038863417596102992019-04-05T15:37:00.000+01:002019-04-05T15:37:05.956+01:00Confissões de uma neta<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIh_Lo7RwqQIdyYa5Ljl-gDlyA6OHUR-c2RylhK6lG-50XfooIGxvobUzSPEL6fzegw1Dc3CNfElV4obwHGDu6pjObhF-8qfXeoFq3GrK5erA7AeFoSgQdoxIZcaPi_53M55QrT4u_IXg/s1600/16d6c1d2b82fe6579b3a6f04d8843195.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="558" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIh_Lo7RwqQIdyYa5Ljl-gDlyA6OHUR-c2RylhK6lG-50XfooIGxvobUzSPEL6fzegw1Dc3CNfElV4obwHGDu6pjObhF-8qfXeoFq3GrK5erA7AeFoSgQdoxIZcaPi_53M55QrT4u_IXg/s320/16d6c1d2b82fe6579b3a6f04d8843195.jpg" width="255" /></a></div>
Olá, vovó.<br />
Eu não estarei presente à festa de aniversário dos seus 98 anos este ano.</div>
<div style="text-align: justify;">
De novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vovó, eu preciso confessar algumas coisas que me apoquentam a alma, já há algum tempo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, eu confesso que sempre senti ciúmes do seu amor pela minha irmã Valéria. Por quase toda a vida. Só mesmo quando eu me tornei avó, depois de nascido o meu segundo neto, é que percebi que esse era um ciúme infundado. É-nos impossível amar mais um neto do que o outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, eu confesso que nessas questões de amor eu fui muito insegura. Lembro da vez em que eu chorei feito uma desalmada porque estávamos todos na praia de Sepetiba e minhas pernas ficaram cheias do lodo negro que havia por lá. Voltamos para a casa e eu chorei ainda mais alto para demonstrar todo o meu sofrimento e você só me disse: "Não é preciso chorar, lava que isso sai". Naquela época era um infortúnio monumental, mas hoje ainda uso essa frase para os dramas da minha vida: Não é preciso chorar, isso sai.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, eu confesso que muitas vezes não entendia o porquê da Licinha ficar na casa da tia Norma e nós ficarmos na casa do Sr. Rufino, lá em Iguaba. Pensava que as férias haviam de ser todas juntas numa mesma casa. Demorei a entender que as casas não comportam todas as pessoas que eu quero. Às vezes ainda não entendo, acho que sou meio gato: Se tem um cantinho que cabe uma pessoa, dá para ficar. Mas sei que não é assim que funciona.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, eu confesso que abria o armário que tinha por trás do espelho no banheiro da sua casa. De todas as casas, todas as vezes que ia. Nunca me curei disso. Até hoje, vez por outra, abro o armário do banheiro das pessoas e vejo as marcas das pastas de dentes, as escovas de dentes penduradas nos suportes, um ou outro remédio. No seu armário havia mercúrio-cromo. Como eu amava isso! Na minha casa era merthiolate, que ardia feito pimenta na ferida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, eu confesso ter usado o seu perfume um dia, quando dormimos na sua casa na Gonzaga Bastos. Fui ao seu quarto, abri o frasco de perfume mais bonito que havia ali, coloquei um pouquinho e sorrateiramente fechei-o. Pensei que nunca iria descobrir, até me tornar adulta e perceber que, obviamente, você sabia, sempre soube, deve ter-lhe cheirado de longe. Mas nunca ralhou comigo por isso, nem por nada. Hoje eu também relevo muitas traquinices dos meus netos porque sei que é pura curiosidade. Aprendi a relevar coisas com você, vó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tenho muito mais coisas para confessar, mas acho mesmo que todas elas você já sabe. Meus irmãos e meus primos devem também ter confissões a fazer, mas também essas você já conhece de antemão. Eu peço desculpas por estar longe. Ter um neto longe, ainda que tenhamos muitos por perto, é sempre uma dor, uma falta, uma tristeza. Acredite vó, também sinto que sempre falta um pedaço de mim. Mas é assim que funciona. Pode ser que um dia, mais à frente, a vida fique compreensível. Enquanto isso, aproveitemos o que nela há de bom. Isso, eu também aprendi com você. Não com palavras ditas, mas por essa osmose que me faz sugar o melhor do conhecimento e sabedoria de vida que você tem, vó. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Feliz aniversário, vó. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal</b></span></div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-2836588169294443322018-04-10T17:53:00.002+01:002018-04-10T17:53:18.026+01:00Viemos de um mundo que não existe - O mundo da minha avó<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiccKYK32R3i6U0ymRFMPLCy2tJQBF2TYY8jekr_mCWl58UR9ASoW7W4PPi8oAxuy7c6AY-zfJZveIAsrdO8jhSa69Tcm0tJkXt9h6jvUHMb_DYAViiNRW6dZXa239gJFUJctZIrlg_Jkc/s1600/vovo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="622" data-original-width="749" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiccKYK32R3i6U0ymRFMPLCy2tJQBF2TYY8jekr_mCWl58UR9ASoW7W4PPi8oAxuy7c6AY-zfJZveIAsrdO8jhSa69Tcm0tJkXt9h6jvUHMb_DYAViiNRW6dZXa239gJFUJctZIrlg_Jkc/s320/vovo.jpg" width="320" /></a></div>
Eu costumo dizer que viverei até aos 120 anos. Bem sei que a vida não nos pertence e a qualquer momento ela escapará das nossas mãos mas, por precaução, vamos tomando as nossas medidas para que tenhamos longa vida na terra. Honrar pai e mãe é um dos segredos. Tão bom quanto comer fruta, beber água e fazer exercício.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Hoje minha avó completa 97 anos. Temos celebrado cada ano como uma vitória. Deus tem multiplicado a sua semente de tal forma que já quase não conseguimos contar. Somos tantos e tão fortes, tão diversos e tão iguais, tão jovens e tão maduros, mas uma coisa é sempre comum: Desde bem cedo aprendemos a honrar-nos uns aos outros.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Tenho imenso orgulho da minha família. Não somente pelo número de pessoas que a ela se foi juntando e que fez com que nos tornássemos incontáveis como os grãos de areia, mas também pela integridade de cada um de nós. Somos tantos e somos honrados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nos dias nublados que correm, a honestidade é bem precioso a se guardar. Hoje vejo a minha avó sendo cuidada por muitos e lembro dos dias em que era ela quem cuidava de muitos. Vejo a felicidade estampada nos seus olhos quando ela segura ao colo a sua primeira tataraneta. Vejo tudo isso em fotos e vídeos, porque meus pés me levaram para longe mas o meu coração ficou lá junto da minha avó. Vejo o beijo que meu irmão lhe dá e sinto que sou eu a beijá-la. Porque o meu irmão é um pedaço de mim e, portanto, naquela foto eu também estou. Vejo a barriga da prima que anuncia a chegada de mais um bebé, mais uma semente da vovó. Vejo a vida que se renova, a família estendendo seus braços pelo mundo, o mundo abraçando a minha família. Domingo que vem estaremos todos lá, honrando a minha avó. Uns bons bocados estarão presentes de corpo e alma, outros tantos estarão distantes mas com o coração a comemorar os 97 aninhos da vovó. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre percebi a casa da minha avó como sendo um mundo, mas hoje entendo que ela transcende o mundo. Mesmo aqueles que já partiram lá estão, nos rostos dos filhos, nos gestos dos netos. Sei que em algum momento uma das tias há de desencavar a caixa das fotos antigas e vovó vai chorar e beijar várias delas. Sei também que, por mais mundo que eu conheça, o meu mundo será sempre a casa da minha avó.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vó, este será mais um ano em que eu não vou dormir aí. Essa minha vida de estar longe de ti tem ficado cada dia mais chata. Feliz aniversário, vó. Eu sei que tem um montão de gente que te ama muito, mas eu também sei que eu te amo mais. Beijo.<br />
<br />
<span style="color: magenta; font-weight: bold;">Verónica Vidal </span><i><b>- </b>sabe que é<b> </b>adulta, mas ainda morre de ciúmes de todos os outros netos. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-9715552189025344862017-12-12T18:08:00.000+00:002017-12-14T21:04:24.699+00:00Uma história de natal<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57g6ZdQmApRRNBr8f5_ZWwUtfBFbdGFVq5JC_Y99nCOI__GqMHZkPFowllQk0havz9lLaF-Q7V4vrd9TptI2i7Ee0yG-v8ExAt6cAdNpzX3LzzAGLDFMCC3HtXXcjUJAIS4DQWtGPwC0/s1600/semear-amor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="350" data-original-width="700" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh57g6ZdQmApRRNBr8f5_ZWwUtfBFbdGFVq5JC_Y99nCOI__GqMHZkPFowllQk0havz9lLaF-Q7V4vrd9TptI2i7Ee0yG-v8ExAt6cAdNpzX3LzzAGLDFMCC3HtXXcjUJAIS4DQWtGPwC0/s320/semear-amor.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">De tudo o que há na vida, o que se leva é o amor.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Era uma vez Deus. Ele então fez nascer uma mulher e disse-lhe: tenha filhos e povoe a Terra de amor. E a mulher, obediente, teve filhos, que tiveram filhos, que tiveram filhos e que tiveram filhos. E o amor se foi multiplicando e todos os anos transborda, por pura falta de espaço, nas festas de natal.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E estas festas de natal ganharam um nome especial: É o Natalice.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Alice é a minha avó. Sou a segunda filha do segundo filho da minha avó. Não herdei os poderes mágicos dela, mas o amor transborda em mim também nesta época do ano. E a minha vontade de lá estar explode em mil pedacinhos de saudades e deixa-me com aquele gostinho de rabanada com açúcar e canela que faz a casa toda cheirar a natal. Não sou eu o único galho da família que está distante. A família precisava se espalhar pelo país todo, pelo mundo, para que todo o amor que nos transborda ficasse espalhado pelo chão da terra, como semente de flor. Já era mandamento do Senhor desde antes de nascermos. Todos nós carregamos no peito a marca de Alice.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando ainda ninguém falava em diversidade, já minha família se misturava. E foram-se misturando cores e sotaques e jeitos de todos os tipos. E a família foi-se vestindo de graça e elegância, como os passarinhos, como as borboletas, como os gatinhos: De muitas cores, de muita beleza, de muita doçura. Todos somos diferentes e todos somos o mesmo. Estamos longe e estamos juntos. Somos únicos e somos um só.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A minha avó Alice não vive num país das maravilhas, mas criou um mundo de maravilhas para que vivêssemos todos nele. E descobrimos as maravilhas desse mundo quando nos juntamos, quando rimos, quando comemos, bebemos e falamos. E falamos de tudo e de nada, numa cacofonia tão grande que só nós entendemos. E então percebemos como é que Deus entende as nossas orações. É um poder que só Ele tem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E Deus disse que era hora de uma nova geração. E decidiu que nasceria uma mulher e que esta mulher multiplicaria o amor que espalhamos pelo mundo. E ela nascerá plena, cheia de graça, lotada de amor. Seu pai é herói e sua mãe é artista. E sua mãe há de fotografar a nossa vida e veremos cores de um natal que nunca se acaba, que nasce dentro de cada um de nós todos os dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
FIM<br />
<br />
<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal</b></span> - sou quem sou porque venho de onde venho, e foi este o presente que Deus me deu.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<br />Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-83095495165204856242017-10-23T10:42:00.001+01:002017-10-23T10:47:11.717+01:00Amor mendigado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzD81bHbQ3ZS0-J9f1NsjTaZZ84LG-h5dQg00LD2R5usuHWeB5R9_jFX5Ew13ZFU0EwAZGONow7hTxWim89QHoQLsKhK72h1ZPFVFHhYlId6gFuItWEKLKb7iUMISmxrBtDt-QaFuVcck/s1600/p000002395.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="225" data-original-width="400" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzD81bHbQ3ZS0-J9f1NsjTaZZ84LG-h5dQg00LD2R5usuHWeB5R9_jFX5Ew13ZFU0EwAZGONow7hTxWim89QHoQLsKhK72h1ZPFVFHhYlId6gFuItWEKLKb7iUMISmxrBtDt-QaFuVcck/s320/p000002395.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
E ela foi prisioneira do amor. Quem mais devia amá-la encarcerou-a numa jaula de esperança. Quem mais devia amá-la era incapaz de amar. Quem mais devia amá-la mais a fez sofrer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Existem pessoas más. Ainda que todos carreguemos as nossas máscaras de boa gente, ainda que toda a gente carregue seus traumas e razões, algumas são simples e tão somente más. Desprovidas de bondade, de desinteresse, de amor. Desenvolvem um coração de pedra. E triste daquele que tiver o infortúnio de amar um coração de pedra. Viverá prisioneiro do desejo de ser correspondido e receberá migalhas, para não morrer de fome de amor na jaula da esperança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Perdoamos pessoas más e mentimos por elas. Dizemos que são doentes. Porque nos é impossível crer na incapacidade de amar. Mas a verdade é que só se consegue dar o que se tem. Quem não tem amor para dar nunca o terá para si. Porque amor é dessas coisas que, quanto mais se dá mais se tem e mais se deseja dar. Amar gera prazer e o desamor gera inveja. Aquele que é incapaz de amar invejará aquele que construiu a sua rede de amor. Invejará os beijos, os carinhos, os passeios de mãos dadas, a criança ao colo, os risos, o aconchego no sofá e até a bagunça na casa. Quanto menos pensamos em nós mesmos e mais desejamos o bem do outro, maior é o nosso prazer. Mas é preciso primeiro destruir o egocentrismo, desejar a felicidade do outro antes de nossa. E aí então, seremos felizes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: sans-serif; line-height: 18.4px;">"<span style="font-size: x-small;">E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.</span></span><span style="font-size: x-small;"><br style="box-sizing: inherit; font-family: sans-serif; line-height: 18.4px; text-align: start;" /><span style="background-color: white; font-family: sans-serif; line-height: 18.4px;">O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece." </span><a href="https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13/3,4" style="box-sizing: inherit; color: #2969b0; cursor: pointer; fill: rgb(41, 105, 176); font-family: sans-serif; line-height: 18.4px; text-align: start; text-decoration: none;">1 Coríntios 13:3,4</a></span><br />
<br />
<b><span style="color: magenta;">Verónica Vidal</span></b></div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-42796010436446255432017-08-11T11:57:00.000+01:002017-08-11T11:58:58.887+01:00Pequenos Passos<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKkZGpi1CTO8oxHZCayQurkVzPYbERww_sAPdELxWq-dir8pQcs2jaQvfh2MxPq-veBnIKMY_GfaNJWX8i2FXq3IrgBs7_Z2-UFDDToxdMYzTnkj-n4-jw9gPJyMxWz_QaM0vhMK_9k7E/s1600/tumblr_map5wecb1p1qbcporo1_1280.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="800" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKkZGpi1CTO8oxHZCayQurkVzPYbERww_sAPdELxWq-dir8pQcs2jaQvfh2MxPq-veBnIKMY_GfaNJWX8i2FXq3IrgBs7_Z2-UFDDToxdMYzTnkj-n4-jw9gPJyMxWz_QaM0vhMK_9k7E/s320/tumblr_map5wecb1p1qbcporo1_1280.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: start;">Imagem: Twin Heart, by Christian Schloe </td></tr>
</tbody></table>
E nós íamos juntas ao colégio Guanabara,
cada uma de nós segura pelas mãos da D. Lina. E envergávamos nossas lancheiras
cor-de-rosa e amávamos nossa professora, a tia Conceição. Era o pré-primário,
nosso primeiro ano de escolinha. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E brincávamos de roda e de pique
alto na vila onde morávamos. E desfolhávamos marias-sem-vergonhas para fazermos
unhas postiças, bem presas nos nossos dedos com cuspe. E disputávamos quem
embalava melhor o carrinho da bebé.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas ela logo entrou para a
primeira série e eu fiquei para trás. Já não podia mais estar na mesma sala de
aula da minha irmã. Ela tem um ano a mais, é mais esperta, está à frente. E eu
fui, mal e mal, seguindo os seus passos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nos bailinhos de carnaval no
Clube Vasco da Gama, onde exibíamos as nossas fantasias – sempre iguais, nunca
repetidas – habilmente confeccionadas pela D. Lina – dançávamos sempre de mãos
dadas ou bem pertinho uma da outra, que era para não nos perdermos. Fomos índias,
baianas, havaianas, empregadas domésticas, usamos sarongues e pareôs. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nossa primeira vez na discoteca
foi memorável. D. Lina nos levou e por lá ficou, enquanto nos acabávamos na matiné
de domingo do Olaria. E um dia fomos à discoteca no clube de Iguaba. Sem a mamãe.
À noite. Com rapazes. Não, não fomos. Minha irmã foi. Eu era só a irmã mais
nova que tinha que ir também. E fui junto. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E fui crescendo à volta dos
amigos da minha irmã, que sempre compartilhou comigo um bocadinho de tudo. Era
como se ela primeiro experimentasse a sopa a ver se estava muito quente, muito
salgada, para só depois eu ir provar também. Toda a nossa infância e pré-adolescência
foi assim, até que ficamos gente grande e cada uma seguiu seus próprios passos.
Já não usamos mais roupas iguais, já não frequentamos mais os mesmos lugares, já
nem vivemos mais no mesmo país. Mas para sempre ela será a primeira, a minha
irmã mais velha.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: magenta;"><b><i>Verónica Vidal</i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
À minha irmã Valéria, que não é minha gémea mas toda a gente achava que sim, os meus parabéns!</div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-41576412763879182822017-07-10T11:29:00.002+01:002017-07-10T11:46:24.341+01:00A verdadeira história da Mulher Maravilha e seu filho herói<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbgF1-AntRqrCpPQLGdlTVp8gMqtRAFH2a6qQR7ejTgkT7N8vbQjpmRDqm9hXxLeQugOTjti7iFg23qzPx1piYGk_RUJ4vtrr_UUODXRxu_OGX6Sax3TYXyu1U2Tq_jrqqdF9eHDA_5Ec/s1600/Colagem+sem+t%25C3%25ADtulo.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbgF1-AntRqrCpPQLGdlTVp8gMqtRAFH2a6qQR7ejTgkT7N8vbQjpmRDqm9hXxLeQugOTjti7iFg23qzPx1piYGk_RUJ4vtrr_UUODXRxu_OGX6Sax3TYXyu1U2Tq_jrqqdF9eHDA_5Ec/s320/Colagem+sem+t%25C3%25ADtulo.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: blue;">Imagens não cedidas. Fonte: Arquivo secreto da Mulher Maravilha</span></td></tr>
</tbody></table>
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Ainda no outro dia assisti o filme da Mulher Maravilha. Impossível não bater aquela saudade da infância. Eu costumava brincar de Mulher Maravilha com a minha irmã mais nova. E saltávamos da janela para o sofá a fim de salvarmos um qualquer personagem imaginário em perigo. E cantávamos a música da série, no nosso inglês inventado, para dar ênfase às ações de salvamento. </div>
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Mas a verdade é que nós conhecemos a Mulher Maravilha verdadeira e toda a sua história.</div>
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JP, filho dos meus primos Monique e Cunha, nasceu com espinha bífida - ou mielomeningocele. É dessas coisas que lemos e temos que ir ao google para descobrir o que é. Quando eu conheci JP, ele era um bebê de uns 6 a 8 meses, com as duas perninhas engessadas. Era gorducho e fofinho como todo bebê, mas com pouca esperança de vida, assim diziam os médicos e assim nos foi segredado. Só que o JP é filho da minha prima, mulher nascida na família mágica que é a minha. E ele foi crescendo em meio a zilhões de cirurgias nas pernas, na cabeça e sabe-se mais lá o que, intervaladas com infecções de urina, com curativos e com amor. Muito amor. E a minha prima Monique o carregava ao colo, muito depois desse tempo de bebê, sendo já JP um garoto crescido e pesado, levava-o para um sem fim de tratamentos, de hospitais, de exames, mas também a aulas e a festas. E JP foi crescendo sabendo que era amado e que era especial, porque seus pais nunca esconderam dele os seus superpoderes. Foi mais ou menos nesta época que eu comecei a desconfiar de que ela era a Mulher Maravilha. É mais do que uma semi-deusa. É que o próprio Deus está com ela, todos os dias.</div>
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Casou-se com um policial, homem grande e forte, que livra os mortais dos perigos das ruas. Não poderia ser diferente. E, sendo a mulher que é, deu ao JP uma linda irmã bailarina e cor-de-rosa. Assim a família completou-se perfeitamente, como num filme. Vive dia a dia a sua missão e colhe aqui e acolá os louros da vitória. Luta com seus braceletes mágicos e agarra a vida com o laço da verdade.</div>
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<br /></div>
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JP cresceu desafiando a ciência e as previsões da medicina. Fez um ano, dois, três, quatro e muito antes disso já sabíamos que a conversa da vida breve viraria história. Foi pajem no casamento da nossa prima. Eu, que sempre sonhei ser daminha de casamento e nunca fui contemplada, via e revia as fotos da cerimónia, com aquele crescente orgulho de prima. E lá estava JP, de fraque, sentado na sua super cadeira de rodas, sorriso aberto a cada flash. Nunca vi uma foto sequer com JP sério ou triste. Todas elas exibem aquele sorrisão delicioso.</div>
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Hoje JP ingressa na <i>Universidade Federal do Rio de Janeiro</i>. É curioso como ele passa os dias a ensinar a todos nós como se deve viver a vida. Agora vai ensinar a mais pessoas que o importante é viver, amar e sorrir, além das informações acadêmicas que acabam por ser importantes para a vida profissional. Heróis são assim. Sabem sempre um bocado mais do que nós e usam seus superpoderes para nos proteger. João Pedro é o herói que nos ensina que tudo se pode superar, que todos temos superpoderes, só precisamos é aprender a usá-los.</div>
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<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal </b></span>- a orgulhosa prima da Mulher Maravilha e do seu filho herói.</div>
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Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-25144343889423476572017-04-06T11:43:00.000+01:002017-04-06T11:43:15.324+01:00Família - conjunto de pessoas que amamos.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyqTNGdwIURFo4Gzcy_nLC38m_ujo0Jp_Wvi1_Scm4zlZF3dfHRSq63iEFRYMlqJbTR_zUAFWkxXGooQ9W6zsRInn19CnaCuiEpBh8Z7oyQPOV7y9pvQDXWzNBfEE13jsUvQh3XVQfb68/s1600/FotorCreated.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyqTNGdwIURFo4Gzcy_nLC38m_ujo0Jp_Wvi1_Scm4zlZF3dfHRSq63iEFRYMlqJbTR_zUAFWkxXGooQ9W6zsRInn19CnaCuiEpBh8Z7oyQPOV7y9pvQDXWzNBfEE13jsUvQh3XVQfb68/s400/FotorCreated.jpg" width="400" /></a></div>
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Já reconheço pouco da minha família alargada. Quando falo de família alargada, falo de todo aquele mundão de gente aparentado de alguma forma, seja por relações de sangue ou por afinidades. Minha árvore genealógica recente é tão complicada que me dá preguiça de explicar. Tenho tias que não são exatamente tias e primos que não são exatamente primos por conta de diferentes casamentos aqui e acolá. A questão é que eu cresci sem me aperceber disso porque esses assuntos nunca foram colocados. Não havia uma tia "menos tia" porque não era irmã do meu pai ou um primo "menos primo" porque seria filho de um meio irmão - gente o que é essa coisa de meio irmão? Somente agora, quando preciso explicar ao meu marido a lista do quem é quem, deparo-me com essas questões. E aborreço-me profundamente com observações do tipo: "Ah, então ele não é nada teu tio!" Não, na casa da minha avó não é assim. </div>
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Minha avó é quase centenária. Chama-se Alice, mas para mim sempre foi vó, porque não conheci outra. Ela gosta de festas e ensina pelo exemplo. Não é mulher de dizer: "faz, assim, faz assado, faz cozido ou ensopado". Quando eu era pequena, ela fazia coisas do jeito dela e eu ficava feliz em ver o resultado. Quantas vezes ouvi minha mãe ou uma tia, a reclamar qualquer coisa da vida e receber o sábio conselho da vovó: "Ah, deixa isso para lá". E lá ia ela passar um café. Com o tempo, aprendi que valorizamos demasiado os problemas. Aliás, valorizamos demasiado pequenas coisas até que elas se tornem em problemas. Quando estou por aqui, encafifada com alguma coisa besta na cabeça, ouço a voz da vovó lá ao fundo: "Ah, deixa isso para lá". E vou tomar um café. Já vi vovó irritada, ou melhor, a ter um rompante de irritação. Seria estranho se nunca tivesse tido um ou outro rompante, pois tinha a casa sempre cheia, primeiro de filhos, depois de filhos e netos, e muitas vezes de um sem fim de gente que não se pode relacionar assim, de sopetão. E por ter visto um ou outro rompante da vovó, perdôo os meus próprios rompantes e sigo a vida.</div>
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A verdade é que carregamos conosco a nossa família. Aprendemos tantas coisas com ela que nos é impossível desarraigar sua influência. Quando somos abençoados com uma família numerosa e bagunçada como é a minha, simplesmente não desejamos extirpá-la de nós, ainda que nos tornemos gente grande. Há uns dois anos uma das minhas tias estava cá em casa de visita e, num dia em que saíamos de carro para algum lugar, disse-me que eu não devia encostar a cabeça no banco enquanto dirigia. "É perigoso, dá sono." Desde então, nunca mais descansei a minha cabeça naquele encosto de pescoço. Realmente dá sono. E um sem fim de coisas que faço ou deixo de fazer porque a minha família mora em mim.</div>
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A família há de se reunir em peso na casa da vovó para o dia do seu aniversário. Minha família celebra a vida. Eu vivo longe e não posso lá estar, mas absolutamente amo as conversas sobre os preparativos: Um diz que vai levar um salpicão, o outro um bolo, o outro não tem tempo e vai comprar pronto. O fato é que a casa vai ficar em festa, as pessoas vão chegando, o alarido vai aumentando e a vovó fica feliz. Vão tirar fotos e mais fotos, eu vou perguntar "Que bebé é esse?" - porque sempre nasce mais um que eu ainda não conheci - vou tentar identificar os tios, tias, primos e primas que não vejo há muito tempo e vou ficar com o coração apertadinho por estar longe. E é nessa hora que eu me lembro do livro do Richard Bach, que ganhei de um colega quando eu tinha uns 15 anos: "Longe é um lugar que não existe". </div>
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<span style="color: red;"><b>Verónica Vidal </b></span></div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-83687693425692917842016-10-21T16:47:00.000+01:002016-10-21T16:47:21.893+01:00O Encantador de Gente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHltvGWC4xMW17AFneWTG85z84-_x2xcCTWWnvK-ios2w8W3oE77SFX93twmNm48o8ihxyVSSs5teofQ7z7mXQbwX4IYQkPmVJ9wU75nBH2D73qJbRGgYtaOihZix6q-xTIkkkUNqvi0o/s1600/Gon%25C3%25A7alo+Mickey.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHltvGWC4xMW17AFneWTG85z84-_x2xcCTWWnvK-ios2w8W3oE77SFX93twmNm48o8ihxyVSSs5teofQ7z7mXQbwX4IYQkPmVJ9wU75nBH2D73qJbRGgYtaOihZix6q-xTIkkkUNqvi0o/s400/Gon%25C3%25A7alo+Mickey.JPG" width="400" /></a></div>
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Gonçalo competa hoje dois aninhos. E quem não o conhece não sabe o que é ser invadido por um comboio eletrificado de carinho, por uma flecha que se finca no peito, enche-o de ternura e nunca mais sai de lá. Gonçalo é um misto de doçura e traquinagem, arrumadinhas de tal forma que nos é impossível definir. Ele é pura energia e sorrisos. Tudo o que existe à sua volta é um mundo novo a ser descoberto, tocado, desmontado, jogado.</div>
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A vida, na sua concepção, é colorida, tem ruídos que precisam ser despertados, tem texturas que têm que ser experimentadas. E assim os talheres viram batutas e os pratos tambores. O copo d'água precisa ser derramado para experimentarmos o molhado. O brinquedo, o telefone, e tudo o que é possível desmontar precisa ser desconstruído para ser descoberto. E os sonhos que, para a maioria ficam apenas nas idéias, para ele devem ser vividos e cada dia é uma aventura nova.</div>
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É bem verdade que é um menino de poucas palavras. Mas palavras para que, quando há tanto o que se fazer, tanto a descobrir e tão pouco tempo? Nunca se sabe quando virá uma mágica chamada sono, que o faz fechar os olhinhos e daí... bem, daí só haverá mais aventuras quando a mágica acabar e os olhinhos se abrirem. Não é preciso muito falar quando se sabe usar esse carisma, esses olhares e esse sorrisinho com maestria ímpar! Feliz aniversário, meu netinho encantado!</div>
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<br /></div>
<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal</b></span>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-27091192612487485922016-06-21T17:16:00.000+01:002016-06-21T17:28:07.917+01:00Doces Brasileiras em Terras Lusas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXZKzKH5syGkVCTj5_764AdYbHjNsGf4F2Tf-xRtBvbjOXUSB8wISnu1f9YdSsXWyjEL6m9E9A-HFwXk7Bn7LH9pbY8B8YccDU5qVpeLTNFXOkql3DOiG6ZtPbtm5b9lx6ZXh-kTAZA9w/s1600/WhatsApp-Image-20160612.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="285" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXZKzKH5syGkVCTj5_764AdYbHjNsGf4F2Tf-xRtBvbjOXUSB8wISnu1f9YdSsXWyjEL6m9E9A-HFwXk7Bn7LH9pbY8B8YccDU5qVpeLTNFXOkql3DOiG6ZtPbtm5b9lx6ZXh-kTAZA9w/s320/WhatsApp-Image-20160612.JPG" width="320" /></a></div>
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Aproveitamos melhor a nossa infância na maturidade. Não tenho a menor dúvida disso. Hoje, aos 48 anos, aproveito a minha infância como não a fiz aos 8. Talvez porque não tivesse à época qualquer consciência da efemeridade das fases da vida, talvez porque estivesse concentrada em aproveitar o momento e fotografá-lo na memória porque secretamente sabia que dias viriam em que eu iria amar me lembrar desses instantes.</div>
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<br /></div>
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Minha tão esperada visita da tia Gisele se fez real. Finalmente! Depois de nove anos de exílio autoimpingido e após um planejamento frustrado, minha tia/madrinha veio passar uns dias comigo. poucos, mas bons. E junto veio minha tia menina Alice, mulher viajante, menina de estrelinhas. E com elas veio Sandra, prima misteriosa que deslindou o fio da meada entrelaçada da nossa família misturada e eu acabei por ser lembrada de que tinha uma tia que não era tia mas havia sido tia porque meu avô que não era avô virou avô. Logo, Sandra é minha prima. Simples assim e claro feito água como todas as coisas na minha família. Para coroar, trouxeram Rose, amiga da tia Gisele. Se bem conheço o histórico da família e o bom encaixe de Rose nessa tresloucada mistura, meus netos ainda a chamarão de tia e se um dia alguém disser que ela não é tia será complicado explicar sua origem.</div>
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<br /></div>
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Casa cheia, dividi com meu marido as nossas visitas: Eu ficaria encarregue das quatro brasileiras e ele dos quatro portugueses. Ah, sim, porque visitas cá em casa quando aparecem vêm em bando. E espaço arranja-se. E lá fomos as cinco mulheres de meia idade, ou quase isso, sapecando pela região centro de Portugal. Do passeio nos moliceiros de Aveiro, com a doce brisa a beijar o nosso rosto e o belo Pedro que nos abandonou chorosas, levamos no peito as saudades e no estômago o peixe grelhado e as tripas d'Aveiro. Milagrosamente eu consegui perder a Lagoa de Mira, mas em se tratando de uma pessoa como eu na condução, perder um acidente geológico como uma lagoa ou uma montanha, não é fato inédito. O jantar nos esperava. um bacalhau português, feito em Portugal por um autêntico português. Já não importava mais quantas vezes tínhamo-nos perdido ou se o cansaço nos dominava. Chegamos em casa. Bacalhau e vinho. E conversa fiada. Tudo isso ao mesmo tempo todo mundo junto e misturado.</div>
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<br /></div>
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E largamos nossos sorrisos pelas ruelas de Óbidos, perdemo-nos nas lojinhas e já ninguém se preocupava com o excesso de peso da mala. E depois das promessas não cumpridas de nada mais comprar, paramos em Nazaré, porque eu queria deslumbrá-las com a vista daquela praia espatacular, do casario branco e dos enormes penhascos enquanto Rose queria deslumbrar suas cachorrinhas com presentinhos portugueses - só mais estes!</div>
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<span style="font-family: "arial" , "helvetica";"><span style="background-color: white; font-size: 12px;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Por cá torcemos para clubes diferentes, temos religiões diferentes ou nenhuma, temos nacionalidades distintas, discordamos de algumas coisas, concordamos com outras tantas. Falamos todos de uma só vez porque há muito o que dizer, muito o que ouvir e pouco tempo para tudo. Temos todos sede de amor, amor demais para dar e ele vai saindo por todos os cantos e jeitos, em forma de frases, de abraços e de comida, de passeios e de risos, de vinho, de orações, de presentes e de lágrimas. Quem por cá chega é família. </div>
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<br /></div>
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E descobrimos que Coimbra tem muitos encantos e não só na hora da despedida. Vimos que a cidade é uma lição de sonho e nós fazemos a tradição. Nossa faculdade é o viver e o conviver, é o rir de um tudo e de um nada. Nosso livro é de ouro e a tinta da nossa caneta é indelével: Amor.<br />
<br />
<b><span style="color: magenta;">Verónica Vidal </span></b>- <span style="color: magenta;">é impossível resumir quatro dias em tão poucas linhas. Só me resta dizer uma coisa: Quem ficou com a foto do Pedro????</span></div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-55394826814061282722016-06-09T10:22:00.000+01:002016-06-09T10:22:45.061+01:00Tia Vivi - de vítima de assassinato à menina da bolinha de queijo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEWZ91OkHaf_Jr0OWUnf3msrJpYl5DsCZvV9is6lEjPbSUbJootCBAsM_wp4PSWa1i-23zDTMbzOpEwHLLfy4H3a84vRfTpYe4yCkEW_lgntSDICggKK0TfqJDMW-pl0MjtqLOrZC9rrE/s1600/253327_10200259043652025_41150035_n+%25281%2529.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEWZ91OkHaf_Jr0OWUnf3msrJpYl5DsCZvV9is6lEjPbSUbJootCBAsM_wp4PSWa1i-23zDTMbzOpEwHLLfy4H3a84vRfTpYe4yCkEW_lgntSDICggKK0TfqJDMW-pl0MjtqLOrZC9rrE/s320/253327_10200259043652025_41150035_n+%25281%2529.JPG" width="320" /></a></div>
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Ela foi a pessoa que mais sofreu nas minhas mãos. Foi torturada aos seis meses de idade quando eu, do alto dos meus quatro anos, a levei para o cimo de uma escada e a vi caindo de lá. Cresceu em tamanho mas nossas lutas continuaram sendo travadas no ringue de um imaginário infantil após as querelas sem fim, que surgiam do nada e por motivo torpe, mas era caso de vida ou morte para nós. Um pé na cama da outra, sentar ao lado da mãe quando seria o dia da outra num hipotético acordo previamente selado. Assim eram as brigas com a minha irmã mais nova. Três anos e oito meses a menos que eu, motivo suficiente para aborrecer-me a vida e as brincadeiras durante a infância.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Três anos e oito meses a mais do que ela e, como minha irmã mais velha tinha um horário na escola diferente do meu era também com ela que eu passava a maior parte do tempo livre em casa. Nossas históricas brincadeiras de Mulher Maravilha e nossos intermináveis banhos juntas, quando só saíamos após a mamãe gritar que a água do prédio não era só nossa, e corríamos nuas para o quarto, porque a toalha virava capa de super-herói, moem-me de saudades da minha irmã companheira de sempre.</div>
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<br /></div>
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Crescemos e viramos gente grande. Ela virou a tia Vivi. Para duas meninas do subúrbio que pouco saíam de casa, muito fizemos! Fomos as meninas das bolinhas de queijo! Têm noção do que é isso? Nossas histórias são só nossas e dariam um livro. Mas são só nossas. Foi a primeira das 3 irmãs a ter gatinhos. Sempre foi minha companheira de cinema. E teatro. E exposições. E com quem eu podia comentar um livro que li. É a única pessoa que eu conheço que quando fala eu penso: "Eu poderia ter dito isso." </div>
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<br /></div>
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Hoje já não conseguimos fazer as mesmas coisas que dantes, porque vivemos muito longe. Falamo-nos sim, mas eu tenho um amor egoísta pela minha irmã mais nova. Daqueles amores de querer pegar a pessoa e conversar só com ela, passear só com ela, sufocá-la, feito vontade de agarrar bichinho fofinho? A este dei o nome de amor Felícia. E a culpa é do horário da escola. E dos três anos e oito meses. Ou talvez houvesse realmente alguma mágica na toalha que virava capa de super-herói.</div>
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<br /></div>
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<b><i><span style="color: magenta;">Verónica Vidal</span></i></b></div>
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À minha amada irmã Viviane, que hoje completa 3 anos e oito meses menos do que eu, feliz aniversário para ti. Secretamente eu acabei por achar que mamãe e papai te fizeram para me dar uma irmãzinha de presente. Logo, és minha.</div>
Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-38159006594468845562016-04-16T22:56:00.000+01:002016-04-16T23:00:41.129+01:00Saudade é o vazio que o amor deixou sem nunca de lá ter saído<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZNGumxUGUnw6GN58k6AUrbZuHhSRxvNtvNegSk2Xq_iP16PyVhAI-FooT2G5TsoN4a2EU8YdCM63TrM6f0UQrBD3WX2Qlkl1hZBiHxmH7OB1bpZFfnJfxhUs0bhk3HVjPO9xJQCmA_n8/s1600/transferir.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZNGumxUGUnw6GN58k6AUrbZuHhSRxvNtvNegSk2Xq_iP16PyVhAI-FooT2G5TsoN4a2EU8YdCM63TrM6f0UQrBD3WX2Qlkl1hZBiHxmH7OB1bpZFfnJfxhUs0bhk3HVjPO9xJQCmA_n8/s1600/transferir.jpg" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
E perguntaram-me certa vez o que significa saudade. Palavra doce, que achou morada na língua portuguesa. E respondi do único jeito que sabia: Saudade, é o vazio que o amor deixou, sem nunca de lá ter saído. Saudade é o amor presente daquele que está ausente, daquele que deixou um espaço no coração e deixou este espaço justamente por nunca ter saído de lá.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saudade é a fotografia dos melhores momentos com os nossos amados, que ficam na memória, escorregam para o coração e por lá vivem. Saudade apaga momentos ruins ou desvanece-os até que não mais sejam reconhecidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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E assim como o amor, o espaço para a saudade é infinito: pai, mãe, irmãos, primos, amigos. Saudade da infância. Saudade de um cheiro. Saudade do cãozinho ou do gatinho que já se foi. Saudade de um amor que já não mais existe, de uma fé e de uma coragem que se foram perdendo pelos caminhos da vida. E assim às vezes, só às vezes, temos Saudades de nós mesmos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Saudade aperta o coração e faz transbordar pelos olhos, por excesso de amor na alma.</div>
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Saudade é o amor sempre presente, imortal. Só a sente quem ama e é verbo presente ainda que a pessoa esteja ausente. Saudade foi a palavra encontrada, na melhor língua do mundo, para Deus nos dizer que o amor vive para sempre.</div>
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<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal</b></span>Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-55319996871625488542016-03-10T15:39:00.000+00:002016-03-10T15:39:21.012+00:00Gisele, a força do amor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje46nNMx1RyhcYrqxaTXaJZBJPoRe4QjnU3Yqyb0ghrbRJsJ7UbrjQvjgenJSWs8lP3Jq8anfYP3F33UEAGZWRufjfE3dviItt6d7rxj6_xYi0OqFakc1ZxsXIzx8ZpsoA9_skKLT3dAw/s1600/minhaFoto+%25281%2529.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje46nNMx1RyhcYrqxaTXaJZBJPoRe4QjnU3Yqyb0ghrbRJsJ7UbrjQvjgenJSWs8lP3Jq8anfYP3F33UEAGZWRufjfE3dviItt6d7rxj6_xYi0OqFakc1ZxsXIzx8ZpsoA9_skKLT3dAw/s400/minhaFoto+%25281%2529.JPG" width="270" /></a></div>
Eu sou filha do meio. Meio sem graça, no meio do caminho. Nem era a primeira a fazer as gracinhas nem a trocar os dentinhos nem era a mais novinha bebê a gatinhar pela casa. Para piorar um pouco mais, faço aniversário em outubro e no dia 30, ou seja: mais para o fim do ano, quando todos os temas de festas já haviam sido usados e um dia antes do fim do mês. Todo a gente dura. Lisa. Pelo menos toda a gente do meu mundo tão lotado de amor que pouco espaço sobrou para o dinheiro.<br />
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Foi quando Deus apiedou-se de mim. Estou quase certa de que foi mesmo assim. E Ele fez com que meus pais escolhecem para mim a melhor de todas as madrinhas. Mas é que não é só a melhor, como toda a gente diz que a sua é a melhor. É que a minha é mesmo a melhor das melhores, la crème de la crème. E eu fui então a primeira de seus inúmeros afilhados. Finalmente, era a primeira.<br />
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Cresci com a minha madrinha como modelo, queria ser como ela: alta, magra, loura, executiva, chique, linda, sorridente, forte e amorosa ao mesmo tempo. Bem, a questão da estatura, descobri que era mera perspectiva de uma criança de 1,30m. Lá de vez em quando fico loura, é bem verdade. Ser magra já desisti, uma vez que a minha pouca resistência aos chocolates nota-se perfeitamente nas minhas formas generosas. Mas ter uma personalidade forte e amorosa ao mesmo tempo é o que tento imitar desde sempre. Ela transborda emoção em lágrimas quentes e grossas, que lhe escorrem pela face e inundam suas palavras de amor. Como tudo aquilo que é lógico, seu nome foi gravado a sangue no Livro da Vida e ela espalha o seu dom de amor como quem derrama sementes de flores em solo úmido. E eu saí da minha terra, deixei o meu país, segura de que ele está bem guardado, porque sei que a minha madrinha hoje, há de beijar com orações o joelho ralado do meu Brasil e pedir a Deus que sare a nossa terra. Não há melhor band-aid do que este.<br />
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À minha tia Gisele, minha madrinha amada, irmã e amiga, presente precioso que Deus me deu.<br />
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<span style="color: magenta;"><b><i>Verónica Vidal</i></b></span><br />
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<b><i><span style="background-color: white; font-family: sans-serif; font-size: 14px; line-height: 22.4px;">E disse o Senhor a Salomão: "</span><span style="background-color: white; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif;">E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."</span></i></b><br />
2º livro de Crônicas 7:14Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-46063648522085311822016-02-26T18:02:00.001+00:002016-02-26T18:02:44.692+00:00Quando a infância emerge e vem cá acima respirar<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwakWzJo4sNv5mB-4P90qytXDWP51EeT_TK3iUK-guJslDsahxSLUDml0A7enfRBlsFKDILMwbufq5DF1Xs1IkCIGXao5DFE-l0VMFEURe8jE3q1b9uPkXtX_iutTfMkUFxEj8PYwjY6Q/s1600/Marco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwakWzJo4sNv5mB-4P90qytXDWP51EeT_TK3iUK-guJslDsahxSLUDml0A7enfRBlsFKDILMwbufq5DF1Xs1IkCIGXao5DFE-l0VMFEURe8jE3q1b9uPkXtX_iutTfMkUFxEj8PYwjY6Q/s400/Marco.jpg" width="400" /></a> </td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Eliane, Marco, Bambam, o Castelo e Coimbra. <br />
De vez em quando o mundo fica assim: Perfeito.<br />
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<span style="font-size: small; text-align: center;">Eu devia ter uns oito anos quando minha mãe levou-nos a todas para uma visita à casa de uma amiga. Na minha época de menina, mãe quando saía de casa, levava os filhos junto. Não havia quem ficasse com eles, ia a trupe toda. As distâncias de então eram as mesmas de hoje, os recursos eram outros mas talvez os perigos fossem menos. A viagem de Bonsucesso até Coelho da Rocha era longa, era preciso saber bem quais ônibus pegar. Mas isso era tarefa da mamãe, que dominava tudo e nunca nos preocupamos com essas coisas. Estávamos com a mamãe.</span><br />
<span style="font-size: small; text-align: center;"><br /></span>
<span style="font-size: small; text-align: center;">A casa da D. Walkiria tinha encantos que para uma menina de oito anos eram únicos: Os muitos colares de contas, as revistas de fotonovela da Maria, a laje e um lugar secreto, onde não se podia entrar. Nada mais era do que um altar com imagens de santos mas este era terminantemente proibido às minhas mãozinhas. Uma vez proibido pela mamãe, já não havia volta a dar. </span><br />
<span style="font-size: small; text-align: center;"><br /></span>
<span style="font-size: small; text-align: center;">Mas é que lá havia uma santa princesa e um santo herói, que eu bem já havia espreitado. E lá um dia eu quis que eles se beijassem. Fui pega em flagrante delito, denunciada. Ganhei umas palmadas valentes que para mim valiam como espancamento em praça pública, mas fui salva pela D. Walkiria e ainda ganhei bolo naquela t</span><span style="font-size: small; text-align: center;">arde. Sei que não chegaram a compreender que São Jorge apenas salvava a princesa N. Sra. da Conceição de um grave perigo que agora eu já não lembro qual era. </span><br />
<span style="font-size: small; text-align: center;"><br /></span>
<span style="font-size: small; text-align: center;">E lá viviam os 3 filhos: O Zeca, adulto, que não nos ligava nenhuma, como convém a um homem feito, a Maria, moça morena e linda, que ria às gargalhadas e era dona das fotonovelas e o Marquinho, já um jovem moço, que parecia o Caetano Veloso e nos ajudava a subir na laje - o maior paraíso daquela casa.</span><br />
<span style="font-size: small; text-align: center;"><br /></span>
<span style="font-size: small; text-align: center;">E quis o destino, com a ajuda do Zuckerberg, que Marquinho e Maria me pescassem na rede. E foi então que tudo o que eu acabei de vos contar explodiu na minha lembrança como o doce recheio de um bombom. E quis também o destino que o tempo da Maria neste mundo se acabasse. E ela se foi assim, sem anúncio, como os bebês que nascem prematuros e assustam toda a gente. E o Marquinho , que cresceu e virou Marco António, fez-se doutor e importante, todo casado com a Eliane e pai de filhos e avô de netos, ameninou-se de novo diante do luto da Maria, que cumulava com outros lutos da vida.</span><br />
<span style="font-size: small; text-align: center;"><br /></span>
<span style="font-size: small; text-align: center;">Curiosamente vieram os dois à minha casa com a divina missão de curar o meu luto, de arrancar-me da casca. Eliane é o equilíbrio doce, é a serenidade, é o chá das cinco. Marco é a festa de sábado, é o meu pedaço criança, é caviar com champagne. Em meio a passeios, chuva, frio, um raiozinho de sol mais quente, resfriados e crises de hipertensão, invariavelmente terminávamos os dias a rir. E eu enredava-me nas minhas dores e refrescava-me com a presença deles, com a sua leveza. Até a minha gata Kitty, que não costuma simpatizar lá com muita gente, todos os dias subia à cama deles a dar os bons dias. Decidiu que a barriga do Marquinho era excelente lugar para tirar um cochilo à tarde. Quase tão boa quanto a minha.</span></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5oudjF6zy_JuLBb-4QgnQYaTcuVzyzjz4gx6NOU_CzC-DRrjjfHSDIxZ_jJZ9xjhpM4tAjCxCsu4DHyfzEd0Oqe48Q1nettgg9TZPs9LsmS_YIKlYLGHH0sf8mv0_F5En3tB3FYebXeA/s1600/Marquinho+001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5oudjF6zy_JuLBb-4QgnQYaTcuVzyzjz4gx6NOU_CzC-DRrjjfHSDIxZ_jJZ9xjhpM4tAjCxCsu4DHyfzEd0Oqe48Q1nettgg9TZPs9LsmS_YIKlYLGHH0sf8mv0_F5En3tB3FYebXeA/s1600/Marquinho+001.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A assinatura no Livro de Ouro</td></tr>
</tbody></table>
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<span style="color: magenta;"><b>Verónica Vidal</b></span> - mulher, escritora e curicaVerónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8725953380150189680.post-4234319516175600732016-02-09T16:49:00.001+00:002016-02-09T16:49:43.539+00:00Pedrógão Pequeno - um lugar chamado amor<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwWuz3qQsqLO-_D0s3aWMO0xyGU-sLsVAt4hZxgo6PEpK154bwuAJmdWpp96Kk7UAjuQrfAqXbE1fiVVnNmwMEbRL1RCOEIB5z_Zco9Q5S2yVo1pjEDtl0FVB4Ob6hR2tDKgYzpS1Rqcc/s1600/IMG_20160209_164630.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwWuz3qQsqLO-_D0s3aWMO0xyGU-sLsVAt4hZxgo6PEpK154bwuAJmdWpp96Kk7UAjuQrfAqXbE1fiVVnNmwMEbRL1RCOEIB5z_Zco9Q5S2yVo1pjEDtl0FVB4Ob6hR2tDKgYzpS1Rqcc/s320/IMG_20160209_164630.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">P. José Afonso, eu e Marco - Eliane, D. Maria José e eu</td></tr>
</tbody></table>
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Ouvimos dizer que aquilo que dá luta conseguir tem sempre um sabor mais doce. Que tudo que é fácil perde um bocado do seu encanto e mistério. Concordo com o dito porque a maior parte das coisas queridas e lembranças agradáveis que tenho foram resultado de lutas e tropeços, para que enfim viesse o delicioso sabor da vitória.</div>
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E partimos rumo a Pedrógão Pequeno, vila bucólica inserida no Concelho de Sertã e perdida como um oásis no meio das montanhas. E por uma combinação de inata falta de habilidade minha a encontrar os caminhos certos e insistência do GPS em nos fazer circular por quase todo o Concelho, exageros à parte, uma viagem que seria de 50 minutos tomou-nos 1 hora e meia, garantiu-nos muitos enjôos mas também brindou-nos com lindas vistas e caminhos que a nós pareciam inexplorados. </div>
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A missão que tínhamos em Pedrógão Pequeno era simples: A tia do meu amigo, do alto dos seus noventa e poucos anos, havia-lhe pedido uns santinhos da igreja local, onde seu avô - ou pai, já não mais me recordo - havia se batizado. Como negar um pedido a uma senhora quase centenária? Missão dada é missão cumprida e, perto ou longe, lá iríamos nós. E lá chegamos.</div>
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E encontramos uma típica vila portuguesa, paramos no café e perguntamos onde ficava a igreja de São João Batista. A simpática jovem do café indicou-nos prontamente: "É a Matriz". Ficava a dois passos. E lá estava o carteiro, que nos indicou a Junta de Freguesia, onde obteríamos informações acerca do padre, a fim de abrir a igreja só para nós, tirarmos as fotos e dar-nos, se houvesse, os tais santinhos. Em dois minutos o padre José Afonso estava conosco, recém chegado de trabalhos que estava fazendo na própria comunidade. Autorizou-nos a entrar na igreja e pediu à doce Sra. Maria José, que por ali se encontrava e que desviou-se do seu caminho para nos ajudar. Já nãoexistem mais os santinhos, mas saímos de lá pesados de fotos, descobrimos a história do local e da igreja, descobrimos a pia batismal onde o avô havia se batizado - o mote da viagem. Fotos tiradas, histórias contadas, visitas feitas. Descobrimos que, acima de tudo, nada é mais importante do que a boa disposição das pessoas. O empenho sincero que todos ali tiveram em nos ajudar marcará nossos corações para sempre e assim temos a certeza de que, por mais que o homem invente o GPS mais moderno, o que nunca falhará mesmo é o amor. </div>
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<span style="color: purple;"><b>Verónica Vidal</b></span> - Pedrógão Pequeno será sempre lembrado como um lugar acolhedor onde cada uma das pessoas que encontamos pelo caminho, se predipôs a ajudar. Que todos sejamos assim, grandes, como os habitantes de Pedrógão Pequeno.</div>
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Verónica Vidalhttp://www.blogger.com/profile/15638772983746229082noreply@blogger.com3