quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Amar desmesuradamente - Crianças Bichos e Outros Patifes

Livro do acervo de Verónica Vidal

Não é segredo para ninguém que eu seja amante de livros. Tenho os meus gostos particulares, mas em geral sou até bastante eclética. Mas é que, como toda a gente que tem as suas manias, eu tenho cá as minhas. Quando apaixono-me por um autor, leio tudo o que brota ou já brotou das suas ideias e assim a minha estante vai se enchendo de nomes. É assim com Valter Hugo Mãe, Haruki Murakami, Margareth Atwood, Saramago, Eça de Queirós, Garcia Marquez, os Kepler, Isabel Allende e por aí vai.

Cada um dos autores me foi apresentado de forma diferente. Uns por livreiros, outros foram presentes de amigos, uns tantos caíram nas minhas mãos ao fuçar na livraria.

Até que eu fui à apresentação de um livro, aqui em Coimbra, autor local. "O Diário de um Morto", de Pedro Guimarães. Apaixonei-me pelo livro. Ou melhor, apaixonei-me mais especificamente pela narrativa, o que conferiria ao escritor um lugar de destaque na minha estante e a certeza de que seu livro seria lido umas duas ou três vezes. Problema: Era o primeiro livro do escritor e eu não teria mais nada dele para ler. Sem remédio, tive então que aguardar o próximo. Quem gosta mesmo da linguagem de um autor e tem prazer em ler, sabe bem do que eu falo. Vamos lendo um livro e outro, e outro, mas temos aquele fisgado, o objeto do nosso desejo, à espera de sair do forno. E, quando sai, vamos cheios de espectativas devorá-lo. E assim foi.

"Crianças, bichos e outros patifes" conta-nos as peripécias de um menino desde o seu nascimento até à maturidade dos seus sete anos, na convivência com o seu avô e restante família, incluindo cães, gatos e caracóis. Mais do que a vida de uma criança, lê-se nas entrelinhas o amor desmesurado de um avô. É um livro escrito como se de um diário se tratasse, como se tivéssemos a cavucar num baú e lêssemos a vida do outro, em condições tão parecidas com as nossas próprias. Impossível não nos identificarmos em várias das situações. Completamente despretencioso, numa linguagem fluida, leve, como uma conversa na varanda, o livro é um refresco para a alma. Faz-nos rir e esquecer que a conta de luz está pela hora da morte, o combustível aumentou e que agora temos que tomar medicação para a tensão alta.

A má notícia: Por enquanto só vende aqui em Portugal. Vocês terão que me vir visitar.

Verónica Vidal - única proprietária do livro da foto, um bocado para o amassado pelas andanças da vida.