sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O que aprendi com meus gatos.

Definitivamente, gato está na moda por estes lados de cá. No início, pensei logo: resultado da crise. Sim, gatos são menos dispendiosos do que cães. Exigem menos, dão menos trabalho, comem menos e adoecem menos. Quando o cinto aperta e o desejo de ter um pet grita no nosso relógio biológico, acabamos por optar por um gatinho. Mas o fato é que nem foi assim que virei gateira.

A coisa foi aos poucos. Como vivo numa aldeia, por lá havia uma gata que pariu e deixou um filhotinho. Mais tarde ficamos a saber que era fêmea. A gatinha por ali ficou e eu comecei a alimentá-la. Ainda sem conhecer a relação entre gatos e seres humanos, deixava-a livre e solta para ir e vir dentro e fora de casa. Aos 4 meses a gatinha morreu atropelada.


Anos mais tarde, ofereceram-me um gato. Assim, de sopetão. Sua família iria viajar e não podia mais ficar com ele. Apaixonei-me por ele. Comprei brinquedos de gato, caminha, árvore e todos os mimos que apareciam eu queria dar-lhe. Ele gostava de passear no jardim e, como todo gato, explorar as redondezas. Fiz-lhe as vontades e ele sempre voltava. Como estava castrado, eu acreditava que estaria livre das brigas de rua, que não fugiria. Não pensei que o maior perigo nesta selva de pedra em que vivemos são os carros. Quando ele foi atropelado e rastejou até à porta de casa, suportou uma cirurgia na anca e uma semana de dores até morrer quietinho, só então enxerguei que não podemos fazer-lhes as vontades. Se ele fosse meu filho eu não o deixaria ir à rua, ainda que ele pedisse e chorasse. Vi que gatos estão preparados para os perigos naturais das florestas, dos desertos, da vida silvestre, mas não para esses monstros de 1.500 kg que colocamos nas ruas que cortam os seus caminhos e que correm a uma velocidade maior do que a dos linces. Sofri o luto e ainda sofro ao pensar no Snow.


A essa altura, eu já frequentava várias páginas sobre gatos nas redes sociais. Sou contra o comércio de animais, pelos motivos mais óbvios. Não se deve vender gente, não se deve vender bicho. Há gatos abandonados pelas ruas e dar um lar a um gato ter um sabor especial. Assim soube da Gatos Urbanos de Coimbra e adotei a Kitty, através de uma doce senhora. Kitty é uma gatinha castrada e gorducha, muito calma e preguiçosa, que com o tempo ensinou-nos um sem números de coisas:

Somos nós quem atendemos aos seus pedidos, não ao contrário. E fazemo-lo com prazer. Se ela deseja deitar no nosso colo e ser acariciada, ela mia e obriga-nos a sentar num determinado sofá. Quando eu chego a casa, ela mia em frente à caixinha dela, a dizer: "Limpa a minha caixinha" e não desiste enquanto a caixinha não estiver limpa. Kitty nos ama sem fazer alarde. Se chega uma visita ela se esconde. O amor dela é somente para nós, mais ninguém verá. Ela me ensinou que o amor que um animal desperta em nós é diferente de amor de filho, de pai, de mãe, de amigo. Não é maior nem é menor, porque amor não se mede. Mas importa que permitamos que ele seja despertado, pois podemos conviver uma vida inteira com o nosso cão, o nosso gato, o nosso irmão, pai ou mãe e nunca amá-los, apenas habituarmo-nos a vê-los por ali e até a sua presença nos agradar. Mas isso não é amar a eles. É amar a nós.

Verónica Vidal