terça-feira, 22 de setembro de 2009

ÀS VEZES ATIRAMOS NA ANDORINHA E ACERTAMOS O SABIÁ

. Já disse que detesto homem snobe? É, acho que sim. Sabe, aquele sujeito metido a mais que todo mundo? Metido não, ele realmente se acha mais do que nós, pobres mortais. Seja porque estudou um mês ou dez anos a mais, seja porque ganha dez ou mil euros a mais ou porque é mais alto ou sei lá porque cargas d’água, um sujeito resolve que é mais e pronto. É claro que, se estou por cá a escrever isso é porque encontrei um dito cujo exactamente assim. É alto, lá pelos seus cinquentinha, baloiça ligeiramente seus fartos cabelos grisalhos quando fala, ciente e consciente de que é bonitão. Gosta de ser chamado de doutor. Noto bem que ele dá aquele meio sorriso e aquela estufada de peito quando uma desavisada amiga diz: “Senhor Doutor”. Eu cá comigo, de início, achava que usavam deste artifício porque simplesmente não se lembravam do nome do moço. Mas não. O Senhor Doutor gosta de ser assim chamado. Seja feita a sua vontade, e economizemos os nossos neurónios a fim de os utilizarmos em coisas mais importantes, como decidir qual será a cor do esmalte a ser usada neste fim-de-semana.

Euzinha, com toda a sinceridade, até que, a princípio, fiquei ligeiramente balançada pelos olhos azuis do sinhô doutô. Sabe como é… nem sempre são os neurónios que falam mais alto, dependendo do tempo da seca, qualquer nuvenzinha mais escura nos parece um temporal. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca se encantou por um homem que tivesse um saco vazio no lugar do cérebro. Esse tipo de homem é até necessário, podemos usá-los para testar o nosso poder de sedução, podemos até sair com eles de vez em quando para fazer inveja às amigas. O problema é que essas coisas falam. E daí… puff! Lá se vai todo o encantamento! Eles falam e falam e não falam nada. E se repetem no nada falado. Não satisfeitos com o vazio deixado por suas palavras, falam mais e mais e dizem menos e menos. Provavelmente falam tanto porque amam o som da sua própria voz. Tanto que até mesmo nem percebem a nossa cara de enfado e até o leve ressonar que damos durante as conversas travadas com eles. Conversas essas, é claro, que viram monólogo. Dá um soninho…

Entretanto… como a vida não é feita só de senhores doutores e eu sou mais adepta a um estilo estivador do cais, não é que, durante uma das minhas cochiladas - tiradas durante as desinteressantes conversas com meu ex-encanto – eu me deparo com um vislumbre de cabeça masculina pensante? É facto certo que, uma vez que dantes a minha nova vítima só pensava e nada falava, eu só consegui perceber que este monumento existia depois de já estar enfadada do sinhozinho, cuja falta de assunto me havia tirado quase toda a paciência.

Agora, meninas, retomo meu fôlego e vou à luta, já que esse bad boy tem cara de mau, mas me olha melhor, me cheira melhor, me ouve melhor e, bem, vamos ver até onde vai essa história.


Penélope

domingo, 13 de setembro de 2009

Penélope Borralheira

cinderelanaescada.gifDia dos namorados e cá estou eu, somente com um dos sapatinhos de cristal calçado no pé esquerdo. A Cinderela aqui ainda espera o príncipe descobrir que, debaixo dessa fuligem há uma princesinha lindinha que viverá feliz para sempre com ele. 


Pois é, mas acho que minha história está mais para Chapeuzinho Vermelho do que para Cinderela. O problema é que nem lobo para comer a Chapeuzinho tem. Quer dizer, ter até tem, mas é cada lobo mal parado que nem daria para comer a vovozinha, que dirá a Chapeuzinho aqui.

E ainda há quem diga que eu não tenho do que reclamar. Minha caixa postal vive cheia. E lá vou eu, sempre ansiosa para abri-la quando me deparo com aqueles famigerados e-mails do vizinho casadíssimo, barrigudíssimo e obviamente horroroso enviando páginas de todos os sites romanticamente melosos que vêm ao som do pior de Roberto Carlos. É sempre aquela frase maldita que causa arrepios: “Fulaninho viu este site e resolveu mandar para você” ou: “Fulaninho deseja enviar-lhe flores” e lá vem a página de rosas vermelhas que leva 15 min para sair do computador. Isso quando o maldito não manda os repasses de arquivos em power point que travam o troço. Ele deve mesmo me odiar. Eu deveria ter dado logo para ele só para que ele me deixasse em paz. Fico me perguntando: "Porque, mas porque, tem sempre um infeliz deste na minha cola e os bonitões e gostosões nem aparecem? O que eu fiz de errado para merecer isso?"

Pensando bem, é melhor nem perguntar pois vai que a resposta vem e eu recebo pela
cara todas as coisas estúpidas que já fiz em matéria de caçar o sexo oposto.


 É, fazer o quê? Vou comprar um pote de sorvete e alugar um DVD. Vou beijar o primeiro cara que aparecer. Não. Vai que é o famigerado vizinho? Já sei: Vou beijar o primeiro bonitão que aparecer. Vou dar logo para ele antes que ele se recupere do susto. Vou seqüestrá-lo e abusar sexualmente dele. Não, vai que o sujeito dá queixa e isso dá cadeia. Eu ia viver o resto da vida cercada de mulheres. Ai, socorro! Acho que estou desesperada.


Penélope - mulher solteira procura (ou implora, o que der mais resultado.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Retrata-me, Boticelli!


Ai,ai.. Tenho cá um fraco por cabelos grisalhos. Sempre tive.
Bem, “sempre” é meio muito, mas, digamos assim, desde antes dos branquinhos aparecerem na minha cabeça, eu já admirava os cabelos prateados de alguns homens. E assim, volto a pensar que a ditadura da moda e da beleza que nos é impingida foi criada com o intuito mórbido de nos sacrificar.

A voz da mamãe ainda ecoa na minha cabeça quando então me penteava os cabelos: Não chore. Mulher pra ficar bonita tem que sofrer!

Fui a uma clínica de estética marcar uma “depilação definitiva à luz pulsada” – ou qualquer coisa parecida com isso. A primeira notícia não era ruim: Não dói nada – Garantiu-me a especialista. Depois disse que eu deveria depilar a região com lâmina. Pensei: E depois, quando começar a nascer? Vai coçar horrores! Pensei e perguntei. Ela garantiu que não, que os pelos nasceriam fininhos. Como o objetivo era me livrar dos pelos indesejáveis lá daquela região onde normalmente não bate o sol, a preocupação fazia todo o sentido. O que não fazia sentido era o investimento financeiro que se há de fazer para isso. 55 € por sessão, com a oferta de uma grátis, no clássico estilo leve dois e pague um. Já que eu só tenho uma periquita, pensei no que faria com a minha sessão de oferta, mas antes de fazer a pergunta idiota, a mocinha prontamente me respondeu: Ah! Não basta só uma sessão, claro. Pois é, a coisa anda mesmo moderna. Mulher, para ficar bonita ainda sofre. Mas é diferente. É no bolso.
Já que é dia de arraso mesmo, precisava desabafar cá uma coisinha: Quero assassinar o treinador da academia que freqüento. Motivo: Chamou-me de gorda. Assim se desenrolará a minha defesa: O sujeito, com pouco mais que metade da minha idade, queda de cabelo pronunciada e um jeitinho simpático que nos impede de xingá-lo, insistentemente me telefona para marcarmos uma maldita avaliação – explico: depois de 1 ano no ginásio, segundo ele, eu deveria fazer a tal avaliação. Caí na esparrela e concordei. Depois do pesa-mede pra lá e pra cá, o guri dá-me o resultado: “Você está gorda! Não deveria estar pesando X e com flexibilidade Y, com massa adiposa M” e um sem fim de nomes e técnicas que só serviram para me deprimir e me deixar com uma vontade enorme de mandá-lo enfiar aquela parafernália toda no fundo do seu orifício excretor. Como sou boa menina, não fiz isso. Fiz cara de paisagem e fui para a esteira, amaldiçoando o dia em que o infeliz nasceu. Odeio pessoas que adoram se exercitar. Daquelas que acordam numa manhã de sábado, de camiseta e shortinho, prontinhas para correr no calçadão, enquanto você se enrola ainda mais nas cobertas dando graças por dormir mais um pouquinho? E as que suam nas aulas de spinning? Eu não dou duas rodadas naquela porcaria. Aliás, para mim, a série Sex and the City seria perfeita se aquelas atrizes não fossem todas tão forçosamente magras. Pelo menos são feias, o que já é um alento. Cada dia detesto mais e mais ser boa menina.
É. Gostaria que voltássemos à moda renascentista, quando as mulheres eram fielmente retratadas por pintores clássicos, que chapinhavam pincéis em tintas e nossas maravilhosas curvas e celulites ganhavam ares de perfeição. Se eu gosto dos cabelos grisalhos, porque eles não haveriam de gostar das nossas curvas renascentistas? Por que razão eu devo dar ouvidos a um fedelho com metade da minha idade? Sei lá. Mas eu tenho que me despedir. Tá na hora de ir pro ginásio.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Marcianos X Venusianas

Homens reclamam constantemente que nós, mulheres, somos complicadas. Eles têm razão. Muita razão. Somos seres complexos, pensamos demais. Quanto mais estudamos, mais inconstantes ficamos, mais padecemos de alterações de humor, mais solicitamos, mais damos, mais queremos, mais, mais, mais. Homens são mais fáceis, assim imagino. O clube perdeu? Mau humor. O clube ganhou? Bom humor. Há sexo? Bom humor. Não há sexo? Dorme. São fáceis. Comparar homem e mulher é como comparar um protozoário a um ser humano – não digo isso aqui para denegrir os homens, mas para comparar a simplicidade de um organismo à complexidade do outro.
Ver imagem em tamanho real O dia a dia de um homem é simples e rotineiro. Levanta, faz a barba, não toma café da manhã e sai com uma xícara de café ainda a engolir. Chega ao trabalho, faz o que há para ser feito, vai ao café ao lado e come qualquer coisa, volta ao trabalho, almoça, mais trabalho, chega a casa, toma banho, janta em meio a notícias, futebol e cama. Se há sexo, há, se não há, dorme.
O dia a dia de uma mulher é: Levanta, toma banho, tonifica e hidrata o rosto, maquilha-se, hidrata o corpo, seca o cabelo, prepara o café da manhã com: café, fruta, granola, mel e iogurte. Guarda o que ficou espalhado da noite anterior e lava a louça do café. Coloca na bolsa a água com fibras, o lanche do meio da manhã e vai trabalhar. Trabalha, certifica-se que bebeu 1,5 l. d’água durante todo o dia, lancha a barra de cereais que trouxe na bolsa, pois o café ao lado tem um cardápio a pensar em homens, almoça uma sopa em 15 min. a fim de aproveitar o tempo para arranjar as unhas – ou as sobrancelhas, ou os pés, ou a depilação, ou ir ao banco, cada dia é separado para um fim – mais trabalho, ginásio, casa, preparar o jantar, jantar, separar a roupa para lavar, separar a roupa que vai vestir no dia seguinte, molhar as plantas, escovar os dentes, lavar o rosto, tonificar e hidratar a pele e cama. Se há sexo, pergunta-se: Estou muito gorda? Meu peito está caído? Ai, essa minha barriga não desaparece nem por decreto papal! Porque será que ele passou o dia todo sem nem me ligar? Deve ter outra. Certamente tem outra. É nisso o que ele pensa o dia todo. Estou gorda. Se não há sexo, pergunta-se: Estou muito gorda? Meu peito está caído? Ai, essa minha barriga não desaparece nem por decreto papal! Porque será que ele passou o dia todo sem nem me ligar? Deve ter outra. Certamente tem outra. É nisso o que ele pensa o dia todo. Estou gorda.
Isso tudo me lembra a história dos ciúmes. Na América, terra das pesquisas e estatísticas, determinaram que as mulheres são mais ciumentas do que os homens. Sim, determinaram, digo eu, pois eu lá sei se essas pesquisas são ou não válidas e o quanto de sinceridade foi utilizado ao respondê-las. Confesso que eu tenho uma certa preguiça em personificar o protótipo da mulher ciumenta. Vasculhar bolsos e cheirar roupas não faz o meu estilo. Já basta ter que colocá-las a lavar, ainda tenho que vasculhar bolsos? Eu sofro de enxaqueca, não estou aqui para ficar cheirando roupas. Meu tempo é curto e, com o pouco que me sobra, prefiro gastá-lo a ler um livro. Tudo isso para dizer o que? Que, com tantas coisas que uma mulher tem a fazer no seu dia a dia, tenho cá as minhas dúvidas em relação a essas pesquisas norte americanas.
Tenho uma amiga que deixou o terceiro marido há pouco tempo. Às vezes lamenta o fato de agora estar sozinha, à beira dos 50 anos. Eu, pessoalmente, ainda prefiro estar sozinha aos 50, disponível para um príncipe, do que ficar 10 anos acompanhada de um estorvo e perceber que neste aniversário completo 60 anos. É claro que, à medida que o tempo passa, nosso ideal de príncipe precisa ser adaptado. É preciso esquecer os abdómenes tabletes e ficar feliz com uma barriga saliente, deixar de lado a preferência por loiro ou moreno e aceitar uma pronunciada calvície. Em contra-partida, há mais chances de ser sorteada na mega lotaria do sexo e ganhar um mestre nas artes da alcova. E isso, já é bem mais difícil de encontrar entre os príncipes de vinte e poucos, desses que estampam as revistas e fazem comerciais de cuecas. Enfim, um brinde ao terceiro divórcio. Espero que estejamos juntas para podermos brindar ao seu quarto casamento. Vou molhar as plantas.