sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma voltinha de Velotrol

Minha filha me liga e grita: "Mãe, peguei a carteira!!!" Respondi com a resposta previsível, as felicitações esperadas e fiquei sinceramente feliz por ela. Passado o enlevo da sua exclamação, meu estômago resolveu dar sinal de vida e avisou, com aquele friozinho que lhe é peculiar, de que eu estava com medo. Com medo de que? Pensei. Medo dela sofrer um acidente de trânsito? Não, porque isso poderia acontecer sendo ela ou outra pessoa a conduzir. Medo de...e pensei ainda um pouco mais, não querendo mesmo aceitar o motivo, a razão do meu medo. Tive - e tenho - medo porque ela cresceu, porque eu envelheci, porque ainda tenho a foto dela, de fraldas, a andar de velotrol pela sala de casa. O velotrol, com suas enormes rodas vermelhas, ficou para trás. Hoje, ela conduz um carro, vai para o bloco de carnaval com uma latinha de cerveja na mão e eu nem estou lá. Quando foi que a cerveja substitui o guaraná? Quando foi que ela começou a atravessar a rua sem precisar me dar a mão? Quando foi que o jazz no ginásio da escola virou samba no bloco de carnaval? Eu me perdi no tempo, perdi capítulos inteiros das vidas das minhas filhas. E percebo que a novela da vida não para, à espera de que nos habituemos às suas mudanças, à entrada de novos personagens, ao delinear de novos rumos.