quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Meu Pinguim Veio Dos Trópicos



Sabe aquelas coisas cafonas que bem lá no fundinho da sua alma você gostaria de ter ou fazer? Como ir para o trabalho com as pantufas do Garfield, colocar unhas postiças e bobs nos cabelos? Pois é, eu sempre quis ter um pinguim de geladeira. Minha mãe tinha um. Morava em cima da geladeira Gelomatic, depois migrou para a geladeira Cônsul – é, nunca tivemos uma Brastemp, mas éramos felizes. Enfim, o pinguim da mamãe foi presente de casamento, e serviu para muitas coisas, entre elas, esconder dinheiro. Ele era oco e por baixo, tinha um buraco. E ali mamãe arranjou um mealheiro de notas. Acho que meu desejo de ter um pinguim vem daí: O Pinguim Recheado.

Este foi um ano muito rico. Rico de visitas, rico de alegrias. Uma das vantagens de viver longe da família é que, quando alguém querido vem visitar, fica um tempinho. Menos tempo do que gostaríamos é verdade, mas sempre é mais um bocadinho do que se ainda morássemos ali ao lado. E assim foi.
Meus primos vieram de Ribeirão Preto, a fim de cicatrizar a ferida ainda aberta da partida da minha filha, que tinha passado um mês de suas férias comigo. Dei-me conta de que já não estava com eles desde a meninice.

Família quando é unida é daquele jeitinho em todo o canto: Passam-se os anos mas o vínculo permanece. Falamos do que aconteceu há 30 anos como se tivesse sido ontem. Éramos mais novos do que os nossos filhos quando convivíamos mas a verdade é que o Beto e a Márcia fizeram com que eu me sentisse mais em casa na minha própria casa.

Trabalham na TV e vendem pipocas, o que cria uma aura romântica em torno deles. Apesar de todo o romantismo e fama à sua volta, ainda têm aquele mesmo sorriso de meninos de cidade pequena. Lembram os casais dos amores impossíveis de Camilo Castelo Branco. E sem saber e sem combinarmos, realizaram meu grande desejo: ter um pinguim de geladeira. Estilizado, moderninho e barrigudo, tenho finalmente o meu pinguim. Ele não guarda dinheiro, mas guarda saudades, guarda a certeza de que família se estende muito além das portas da nossa casa, vai se multiplicando e nunca deixa esmorecer o amor. A minha família é feito pipoca: Barulhenta, sente-se de longe e é quentinha. O meu pinguim lembra-me disso todos os dias. Afinal, ele também veio dos trópicos.


Verónica Vidal