quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

COMO ANTIGAMENTE

Há alguns anos atrás, recebi o telefonema de uma antiga colega de escola, que encontrou meu número na lista telefônica. Ela se dedicava a reunir o pessoal amigo da escola. Nós estudamos juntas da 5ª à 7ª série, e a partir daí reencontrei muitos amigos queridos, já meio esquecidos na memória embotada. Fui a alguns encontros, trocamos alguns e-mails e retomei de leve o contato com este pedacinho da minha adolescência.

Há alguns meses atrás, encontrei num site de relacionamento um antigo colega de escola. Participava da comunidade de ex-alunos desta. Através dele, fui retomando contato com mais uns poucos. Travei uma conversa fantástica via messenger com uma antiga amiga. E falamos de pessoas que eu já nem me lembrava mais, mas que tiveram um papel importante à época. O retrato dos meus colegas de escola, outrora à sépia, hoje brilha a cores vivas. Graças a essa minha amiga. E por isso e por outras coisas, descobri que não deixei de amá-la. Não deixamos de amar nossas amigas queridas, apenas as guardamos na gaveta da nossa memória.

Há alguns dias atrás, uma amiga minha, de outro lugar, de outra época, me reencontra no Skype. Travamos uma verdadeira conversa de comadres, e o tempo e a distância que nos separava já não mais existia. Já falei dela aqui. Sempre a amei.

Viver fora do nosso meio, longe dos nossos amigos, nos faz amá-los mais. Percebemos a falta de cada um deles e notamos que não se substitui um amigo, ainda que possamos fazer novos. A tecnologia trouxe a mim esse bálsamo: O reencontro com amigas queridas, há muito guardadas. Só quem não as tem por perto poderá compreender a falta que elas fazem. Homens travam amizades, mas mulheres são verdadeiramente amigas e confidentes. Amigas, confidenciam sentimentos, que é o mais precioso e mais perecível de todos os bens. E assim, via skype, messenger e afins, continuamos comadres, igualzinho a antigamente.

Verónica

À vocês, minhas amigas queridas, por quem muito tenho declarado afeto mas que nunca me soa redundante repetir.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Jujubas da TV

Outro dia teria sido o aniversário do meu pai, se ele ainda estivesse vivo. Sempre lembro dos aniversários, nunca sei as datas de falecimento. Considero-me uma privilegiada. Tenho memória seletiva e, quanto mais o tempo passa, mais seleta são as coisas que se fixam na minha memória. Lembro pouco ou nada de gente aborrecida, de rusgas e de acontecimentos tristes. Sobra a saudade de uma vida não lá muito bem vivida, mas muito bem imaginada.

Do meu relacionamento com meu pai, pouca coisa guardei, muita coisa fantasiei. Não tive um pai dos filmes e novelas, que levam filhos ao parque a soltam pipas no gramado. Éramos todas meninas, e naquela época era mais difícil encontrar pais que se relacionassem com filhas. E se não era, gosto de pensar que sim, porque assim era para mim. Nada me marcou mais - positivamente - do que uma noite qualquer, dessas em que aos 7 anos a gente levanta da cama diretinho para o banheiro, apertada. Tínhamos uma TV muito grande, em preto e branco, daquelas de válvulas. Meu pai chegava do bar e tirava do bolso da calça 3 pacotes de jujubas, daquelas jujubas grandes e redondas, coloridas, dispostas uma em cima da outra e que formam uma lingüiça. Eram as minhas preferidas! Colocou-as em cima da televisão, ao lado da antena. Eu sabia que só as receberia no dia seguinte, mas a visão daquelas jujubas em cima da TV encheu meu coração de amor pelo meu pai.

Passado algum tempo, esqueci disso. Comecei a pensar que nada me compraria. Hoje vejo que não. Ainda sou comprada por jujubas. Não quero saber de pessoas perfeitas, não quero o politicamente correto, não espero o sucesso em todos. Fico feliz com as jujubas que trouxerem para mim.