terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Uma História de Princesas e Castelos.

 Quando as minhas filhas eram pequenas, gostavam de ouvir histórias. Havia uns fascículos que eram vendidos aos domingos e assim completava-se uma coleção de historinhas infantis. Aquilo lá vinha acompanhado de umas fitas cassete, que não só contavam a historinha que o livrinho trazia escrito mas também as canções. Até hoje lembro de várias das musiquinhas. E vez por outra eu sinto falta do mundo mágico dos contos de fada das histórias infantis, das princesas e heróis, dos castelos e sapatinhos de cristal.

Ainda há poucos dias, tive a grata felicidade de perceber que continuamos rodeados dos heróis e princesas. Eles apenas mudaram de roupas. Sem dúvida, usar cristal nos pés não há de ser lá muito confortável.

Quando conheci meu marido, ele gostava de correr e já o fazia há muitos anos. Enfiava um short, metia uns tênis, e saía correndo. Para quem corre 5 km., está ótimo. Ao perceber que ele corria 20 km., minha chatice natural aflorou e passei a reclamar de inúmeras coisas. Uma delas era: O sapatinho já não poderia ser um qualquer. E assim começou. Daí para juntar-se a um grupo de amigos e correrem meias-maratonas, trails, maratonas, foi consequência. E é aí que nossa história começa.

Eu tinha certeza de que conhecia a moça de algum lugar, mas ainda não havia atinado de onde. Tinha aquela beleza clássica, desprovida de adornos, aquele meio sorriso tímido de quem quase pede desculpas por ser feliz.  E foi na preparação para uma destas maratonas que encontrei seu Cavaleiro, à procura de um sapatinho, indeciso na escolha. Maratona corrida, etapa vencida, a moça bonita lá estava, firme e linda, como se nada se tivesse passado, como se o frio não lhe tivesse congelado os dedos, como se a chuva não lhe tivesse fustigado a cara. Quis a divina vontade que eu viesse a viver numa terra recheada de castelos.  E quis ainda a vontade divina que houvesse tempestade neste dia e nos faltasse luz em casa. E lá fomos nós, conhecer o castelo da moça e seu Cavaleiro.
Edward Coke, um político do século XVI, já dizia que a casa de um homem é o seu castelo. Políticos não costumam dizer muita coisa que se aproveite, mas este aí, por acaso, falou algo de jeito. O fato é que, naquele castelo, respirava-se amor por todos os pontos. As casas contam histórias sobre seus habitantes. Casas extrememente arrumadinhas, como as de revista Vogue, dão-me uma qualquer impressão estéril, impessoal, assexuada, e não me fazem sentir que alguém ali vive. Aquela ali não, era mesmo um castelo. Desde o cobertor jogado no sofá, demostrando que aconchegava, à toalha de mesa aos quadradinhos, passando pela mobília antiga de sala displicentemente colocada. Notei um detalhe na mobília e a moça distraídamente me explicou: Foi comprada de segunda mão. Tinha uma expressão tão tocante, e tão rara nas pessoas de hoje em dia, que vivem para mostrar, que têm salas que não usam, cozinhas que não entram. Então, lembrei-me de onde eu a conhecia: Era do cinema, era dos livrinhos das histórias das minhas filhas, era do grande ecrã. Era a princesa Lara, que, sabendo-se princesa, vestia a armadura e lutava como um cavaleiro.

E o seu Cavaleiro, pode até nunca se decidir a escolher sapatilhas, mas escolhe uma princesa como ninguém!

Verónica Vidal - aprendendo a reconhecer a nobreza, mas feliz por ver que ela ainda existe.