terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Bailarina da Caixinha de Música

Sempre amei ser mulher. Não sou dessas mulheres que pensam que teriam sido mais felizes ou teriam tido mais sorte na vida se tivessem nascido homem, ou que se sintam diminuídas pela sociedade simplesmente por não terem um pênis. Ao contrário, preciso lutar contra a minha constante tendência ao sentimento de superioridade feminino. Muitas vezes preciso frear pensamentos imbecis, do tipo: O homem foi feito primeiro portanto, a mulher foi o aperfeiçoamento de um projeto; mulheres são mais inteligentes, mais sensíveis; mulheres geram vida, pode-se clonar a ovelha Dolly mas nunca o carneiro Zé, e coisas do tipo. Não. Somos iguais, somos todos humanos.

Quando engravidei da minha primeira filha, eu ainda vivia num mundo de faz de conta. Não fui dessas mães que muito corretamente planejam o futuro dos seus filhos e fazem poupanças e preparam quartinhos com antecedência. Cor de rosa e com Pôneis para meninas. Azul para meninos, com arco-íris e o Pequeno Príncipe estampado na parede. Eu bem queria que tivesse sido assim, mas não funcionou desse jeito e aos 17 anos eu tinha minha filha nos braços. O que me valeu é que ela era mesmo linda, doce e com uma personalidade que combinava perfeitamente com o nome que escolhemos: Lívia. Era calma, plácida, tranquila. Lívia é a líder da minha trupe de meninas. Venho de uma linhagem altamente feminina. Na minha casa, somos 3 irmãs. Nada mais lógico que Deus me concedesse a mim, uma inexperiente mãe adolescente, uma menina. Eu gerei 3 meninas. Minha irmã gerou 2 meninas. E por enquanto cá estamos, uma família de mulheres.

Lívia cresceu entre babados cor-de-rosa e amando coisas de menina. Amou seu bonequinho Feijãozinho, a quem chamava de "filo", e que um dia foi sequestrado da varanda. Sofreu horrores pelo seu "filo". Dançou jazz na escola, cantou em grupo musical na igreja. Apaixonou-se perdidamente, mas não se perdia muito, pois nasceu para ser a bailarina da caixinha de música. Encanta a todos, com doce música e graça, mas precisa da segurança da caixinha e conhece bem os limites até onde pode dançar. Mas é mulher, e sabe o que quer. Não ouse oferecer a ela menos do que ela espera, ou quem ficará esperando será você. Sempre.


Para a minha filha Lívia, que é o resumo da graça feminina, sem contudo, perder a força.

Verónica Vidal

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Verônica e Seus Amores Confessos


Apaixonei-me aos seis anos de idade por um rapaz chamado Jorge Manuel, recém chegado de Moçambique, que tinha ido estudar da minha classe, lá na Escola Municpal Pedro Lessa. Dos meus amores de criança, essa foi a mais duradoura paixão. Durou quase dois anos, não sei como nem por que acabou, mas provavelmente devido à distância forçada pelas férias escolares. Sabe, o que os olhos não vêem, o coração não sente, e assim, apaixonei-me por outro e outro e outro.

Lá pela quinta série, contava eu meus onze anos, curti várias secretas paixões. Uma menina de onze anos não se declara nem confessa suas paixões, isso é regra. Apenas as melhores amigas sabem, e juram segredo até à morte. Ou até brigarem, e a confidência muitas vezes é utilizada como forma de vingança entre elas. Escrevemos nos cadernos de perguntas as respostas mais vagas possíveis - Um pequeno parêntese para os menores de 40 anos, que não têm a menor idéia do que é um caderno de perguntas:
  • Em cada folha, a dona do caderno escreve uma pergunta, entrega às amigas e elas respondem (às vezes é extensivo a meninos)
  • Exemplo de perguntas: Qual é o seu nome? , Qual é o nome do(a) garoto(a) que você gosta? ...
E assim, eu me apaixonei pelo Anérito. Confessei isso há uns anos atrás, num encontro de ex-colegas de turma. Ele se esqueceu e eu confessei de novo num e-mail esta semana. Eu estava então no ginásio, em escola nova e, com tanta carne nova no pedaço, era natural que as paixões durassem menos tempo, afinal, a oferta era maior. Pouco tempo depois, descobri os rapazes da oitava série. Não tenho espaço suficiente aqui para contar, mas devo ter me apaixonado por uns 5 ou 6. Saí da escola na sétima série, amando o Domingos, que amava a Emília, que não amava ninguém.

Na oitava série, fui estudar no colégio Martins, em Vila Isabel. Segui o clichê de me apaixonar por professores. Sendo mulher de paixões que sou, apaixonei-me logo por três, num só ano: Pelo de Matemática, porque era o mais jovem, pelo de Educação Física, por motivos óbvios e pelo de Geometria, que devia ter mais de 40, uma barriguinha, uma barba, mas era muito simpático e eu adorava suas aulas. 

Cheguei ao primeiro ano do segundo grau na ENCE, ainda vacilando entre as platônicas paixões por docentes - impossível não ser apaixonada pelo Profº Sena - e os reais amores de adolescência. Wagner foi meu primeiro real amor de adolescência. Uma mistura de amigo e vontade-de-não-ir-embora. Eu tinha então uns 15 anos e teria sim, confessado o amor na época, mas acho que tinha medo de perder o amigo, ou, não sei, talvez não tivesse ainda desgarrado a meninice.

As coisas de menina foram ficando para trás e foram dando lugar a flertes, paqueras, conquistas, namoros, casamentos, divórcios, até à tranquilidade conquistada pela maturidade. Mas ainda tenho saudades de fazer corações com flechas atravessadas. Não posso fazer o tempo voltar, mas posso confessar as minhas paixões. Se você é homem e me conheceu, provavelmente eu fui apaixonada por você em alguma época da minha vida. I loved you.

Verónica Vidal - mulher de paixões