sábado, 19 de dezembro de 2009

Natais Perfeitos


Natais Perfeitos

Acredito que todos temos vários natais dentro de nós. Por algum tempo, especialmente em crianças, vivemos natais coloridos com bolas nas árvores e papel de presente. Noutros tempos, vivemos um natal religioso, com aquela deliciosa sensação de proximidade de Deus, com consciência de Sua misericórdia. Há períodos em que vivemos o natal social, quando doamos dinheiro, brinquedos, comida, agasalhos e o que mais vier, àqueles que não têm condições para obtê-los por meios próprios. E, pensando assim, pensei que o natal é um bocadinho como o nosso corpo. Ele se transforma ao sabor do tempo, dependente ou não da nossa vontade. Crescemos, envelhecemos, engordamos, emagrecemos, nosso cabelo embranquece, cai, mudamos de escola, de casa, de círculo de amigos, de estilo de roupa. Mas, assim como nós seremos sempre nós, o natal será sempre natal.

O meu natal perfeito é na verdade, a mistura de diversos natais que já passei. É o natal dos meus 8 anos de idade, quando meu pai voltou do Japão e trouxe uma mala cheia de presentes. Trouxe um gravador e gravamos a voz de todos na família. Inventamos musiquinhas de natal horrorosas e conseguimos piorá-las cantando-as. Meu avô contava os presentes que havia ganho: “...cueca, cueca, cueca!”. Inesquecível foi o natal dos meus 10 anos, quando ganhei uma bicicleta. O tempo passou, meu corpo cresceu, e meu natal tornou-se em religioso, denso, importante. Mas vivia ainda, nos olhos das minhas filhas, o natal colorido. E neste dia, tiramos uma grande foto de família, que enfeita a sala da minha avó até hoje.

Há alguns dias recebi um pedido de autorização. Era da minha tia, menina, aquela que tem estrelinhas de Carnaval nos olhos e veste pareô. Ela pedia para que o natal fosse em sua casa este ano. Pode? Sempre pode. Mas será sempre o Natal da Casa da minha Avó. Que, assim como nós, também se transforma, muda de casa. Minha lágrima escorre hoje do olho porque eu queria muito estar lá, porque na verdade nunca de lá saí. Queria jogar pique-bandeira na vila, com a minha irmã, minha prima e a minha tia menina. Colocar os chinelos como trave de gol, brincar de Mulher-Maravilha com a minha irmãzinha e laçá-la com o laço da verdade. Queria roubar Chantibon do congelador com ela. Queria ouvir minha mãe chamando para tomar banho, porque nossos “pescoços já faziam um cordão de caraca”.

Neste natal, não terei minha mãe a me conferir as orelhas, nem minha madrinha a me pentear os cabelos, nem minha irmãzinha a pegar na toalha e fazer de capa de super-herói depois do banho, nem minha irmã maior a reclamar porque eu tinha roubado a roupa da Susie dela e colocado na minha, nem a minha avó a me dizer: “dorme aqui, vai embora amanhã”. Mas este será mais um natal. Diferente e igual. Fará parte do cardápio de natais memoráveis. Onde nem todos estarão juntos, mas para onde todos os corações estarão voltados. O meu já lá está. Feliz Natal!

Às minhas filhas, que construam natais ainda mais fabulosos que os meus. 
Verônica Vidal