quinta-feira, 4 de junho de 2015

Uma vida com muita vida

Estaríamos hoje todas juntas na casa da mamãe, a celebrar seus 73 anos. E ela, com seus imensos olhos cor de mel, inevitavelmente choraria. 

Quantas e quantas vezes vem-me à cabeça um pensamento recorrente: "vou contar à minha mãe", para imediatamente depois eu sacudir esse pensamento da ideia porque a lembrança de que minha mãe já não está aqui estala como um flash. Sinto um misto de idiotice e tristeza num segundo, para logo então voltar aos meus afazeres cotidianos e bestinhas.

Nunca consegui me lembrar a data da morte dos meus pais. Na minha cabeça, seus epitáfios têm somente as datas de nascimento. Ambos são de 1942. Ambos morreram eu tinha pouco mais de 30 anos. Entretanto, as datas de aniversário, aniversário de casamento, essas sim, eu nunca esqueci. Há de ser a seletiva memória que tenho, que só escolhe os bons momentos para guardar. 

Uma das provas mais duras que uma pessoa pode passar na vida é ficar sem mãe. Em qualquer idade, perder a mãe é perder o chão, perder o colo, a segurança do aconchego. É ter que viver sozinho, ainda que se esteja rodeado de irmãos, marido, mulher, filhos. Temos então que, finalmente, crescer. Porque não é somente a mãe que enxerga o seu filho como uma criança. O filho, enquanto tem mãe, será sempre meio criança, simplesmente porque pode ser. E essa obrigação de crescer de repente dói.

Nunca consegui, e sei que jamais conseguirei ser melhor mãe para as minhas filhas do que a minha foi para mim. D. Lina nasceu com o dom divino da maternidade. Tomava tabuada, botava de castigo, dava chinelada e enchia de carinho. Cresci vendo a minha casa sempre com muitas crianças. Minhas irmãs, minha tia menina Licinha, Cláudia e Adriana que eram as filhas da vizinha, minha prima Monique, a Gracinha, filha da tia Miloca, e um pouco mais tarde, meus primos Daniela e Leonardo. E iam por variados motivos. Para passar um fim de semana, um bocadinho das férias, para a mãe ir à faculdade, ou só porque sim. Mamãe sempre ficava feliz com aquela meninada toda. Não foi diferente quando nasceram as minhas filhas. Sei que a vovó Lina, apesar de ter partido cedo, será para sempre a referência de avó para elas. Porque algumas pessoas, vivem muitos anos, mas na verdade vivem pouco. Minha mãe, viveu poucos anos, mas viveu muito. Viveu nos sonhos que teve, no amor que derramou, nos livros que leu, na intensidade de cada gesto.

Mamãe, feliz aniversário! (até breve)

Verónica Vidal

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