Qual é o momento de mudar o visual? E por que mudar? Quem foi que determinou que peitos de silicone são mais interessantes do que os naturais? Em que momento na história, as mulheres começaram a se encher de hormônios, a entupir seus fígados com anabilizantes e levantar peso, levantar peso, levantar peso, até ficarem com corpos musculosos e disformes, coxas divididas e abdômens trincados? Lembro-me de brincar que a minha Barbie namorava o Falcon do meu primo Marcelo. Acontece que as mulheres consideradas lindas pela mídia de hoje, se parecem muito mais com o Falcon do que com a Barbie. Deixaram de lado o modelo anoréxico impossível de atingir da boneca magrela para o modelo super-músculo impossível de atingir da mulher bombada. O que há de errado com a naturalidade?
Hoje vi uma mulher completamente desprovida de adornos. Cabelos curtos, fios brancos que reinavam gloriosos, salvos de qualquer tintura. No rosto, zero de maquiagem. Não se pode dizer que era propriamente bonita ou feia. Enquanto falava comigo digitava qualquer coisa num teclado. Lindas mãos. Vez por outra, sorria. Belo sorriso. Já havia conversado com esta mesma mulher umas poucas vezes mas, é curioso como, dependendo do nosso estado de espírito, somos capazes de observar coisas que antes nos passavam imperceptíveis. O que a mulher nem bonita e nem feia tinha, de verdade, era uma beleza sincera. Por uns poucos segundos senti-me estranha, falsa, com minhas unhas envernizadas e o meu rosto escondido debaixo de um reboco de bases e pós e blushes e batons. Queria dizer que eu também tinha cabelos brancos mas que eu os falseava com umas mentirosas madeixas louras. Mas não, não disse nadinha, já que a minha palavra falada não é tão boa quanto a escrita e a moça não ia entender patavina do que eu estava para ali a dizer.
A padronização do corpo feminino escraviza-nos cada vez mais, especialmente as mais jovens, é bem verdade. São cabelos que obrigatoriamente têm que ser lisos, barrigas necessariamente chapadas, peitos e bundas XXL, equilibrados em cinturas S, numa crescente mercantilização da mulher. Quem estiver fora do padrão, está fadada ao insucesso. Mas insucesso de que? Em recente reportagem li que um norte americano mantinha um "relacionamento sério" há 13 anos com duas bonecas ultrarealistas. Ora, na era dos tudo-de-silicone e dos cursos express, que geram diplomas e pouca reflexão, em épocas em que substitui-se facilmente uma leitura pela TV ou videogame, casar com uma boneca não é tão surreal assim.
Não, talvez eu ainda não assuma meus cabelos brancos, ou dispense o batom. Muito provavelmente não deixarei de ter as unhas arranjadas. Uma inocente ida ao cabelereiro não corrompe ninguém. Mas sempre que vir uma mulher em sua beleza natural, sentirei que não estamos vendidas. E viva Frida Kahlo!!!
Verónica Vidal - às lindas mulheres cuja beleza são necessárias 4 consultas para que se perceba.