terça-feira, 27 de agosto de 2013

Liberdade na Mordaça


E porque esta minha língua enrolada, que misturou-se a línguas estrangeiras e  perdeu-se no sentido e na loucura e castigada foi de tanto falar o que lhe ia na alma mas que socialmente não era aceite dizer, insiste em tentar buscar sons onde não existe eco. Porque já adormecida estava, e entorpecida e largada, fui então sacudida e despertada, arrancada do lodaçal da minha mesmice, do doce conforto da minha gaiola, para o rasgar do desejo incontido, do proibido gritante, sem palavras para gritar. Porque  tinha que haver música, tinha que haver dança, tinha que haver poesia, tinha que haver risos, tinha que haver paixão. Era imperioso fazer-me perder o fôlego, fazer arder-me estômago, tremer as pernas, na vontade surda da fusão, o unir de bocas, o juntar de corpos, o lamber suores, mas como é quente aqui! E o meu coração mostruoso, adestrado para calar, nasceu de retalhos picados, como um Frankenstein de Mary Shelley, parte dócil e castrado e a outra furiosamente egoísta.


Verónica Vidal - ser boazinha todos os dias é muito chato. Quer dizer, deve ser. Eu nunca fui. Nem um dia.








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