sábado, 31 de agosto de 2013

A menina e o cookie

A menina brincava de bonecas de papel, casinha e Barbies. Vivia no seu mundo cor-de-rosa de menina. Todos os domingos, vestia o seu melhor vestido e tocava piano para encantar as visitas, que muito se admiravam do bom comportamento da menina. Não dizia asneiras e na escola suas notas eram azuis como o mais limpo céu.
 
Um dia, a menina foi à cozinha e viu um cookie.
 
Era um cookie num jarro de vidro transparente. Um daqueles cookies cheios de pepitas de chocolate. O jarro de vidro estava fechado, em cima de uma prateleira muito alta, impossível da criança alcançar.
 
Mas a menina passou a ir à cozinha mais vezes, por gosto até. Sabia ser o cookie um biscoito, nunca tinha comido um, mas aquele não era um biscoito como as bolachas de leite lisinhas que lhe davam para o lanche. Era diferente. As imperfeições da sua superfície o tornavam tão fascinante que ela já não podia mais parar de pensar nele. Sabia perfeitamente que o cookie não era para ela. Cookies são para adultos, não para meninas pequenas. As pepitas de chocolate sujariam seu lindo vestido. Ela sabia disso. Ainda assim, começou a pensar em formas de chegar à prateleira. Uma escada, talvez. Não, poderia cair e quebrar a perna.  E como abrir o vidro?
 
Ser uma menina bem comportada e que toca piano é muito difícil.

Verónica Vidal

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