sexta-feira, 3 de junho de 2011

Minha Trepadeira não Trepa

Somos enganadas a torto e a direito por aí. Não, não vou falar em orgasmos múltiplos – embora devesse, mas minha tendência a um certo inconformismo exagerado nessa matéria iria colocar por terra os anseios das mais jovenzinhas. Falo mesmo é das coisas do dia a dia, coisas que compramos ou que nos são impingidas goela abaixo e que tomamos por verdades as mentiras mais cabeludas. Hããã… quando foi que eu me dei conta disso? Sempre! Quando foi que eu resolvi explodir? Quando uma amiga postou num site de relacionamentos que comprava aquelas borrachas metade azul metade vermelha, achando que a metade azul apagava tinta de caneta. Eu também. Passei a minha infância toda achando que eu era a única incompetente que não sabia apagar com aquela famigerada borracha.
É claro que também já comprei produtos do “ligue djá” que nunca funcionaram, praticamente todos destinados a transformar meu corpinho rotundo de baleia em sinuosas curvas de sereia em poucos minutos, mas isso a gente já sabe que não vai funcionar mesmo antes de comprar. Compramos apenas para alimentar a depressão e assim o mercado gira, e blá blá bla, mas deixa isso pra lá.
Agora, já adulta e pensando que nunca mais seria enganada, não é que me deparo com outra? Há dois anos atrás comprei uma trepadeira. Uma planta. Me disseram que o nome era buganvília e que era de fácil cultivo, precisando só de água, que podia ser plantada num vaso grande e que florescia, etc. e tal. Enfim, era o meu sonho de consumo para a varanda. Faria a minha felicidade visual e seria o meu orgulho como dona de casa. Só que… minha trepadeira não trepa! Estagnou. Recusa-se terminantemente a subir pelas canas que finquei no vaso. Não se enrola no pergolado da varanda e muito menos se multiplica pela treliça afora. É tímida, não trepa! Será que existe um complô entre jardineiros e sexólogos? Tá certo, a plantinha está lá, tímida, viva, verdinha, mas eu esperava uma frondosa e vasta chuva de flores cor-de-rosa. O que é que o sexólogo tem a ver com isso? Eram eles - mais especificamente ela, do programa de TV matutino, destinado às mulheres, depois do quadro de jardinagem (que me meteu o raio da buganvília na cabeça) - que me faziam esperar ansiosamente pela maturidade balzaca, pela liberdade da tão falada idade da loba. E  por onde andam os orgasmos múltiplos e a vida sexual tempestuosa que me prometiam após os quarenta? Talvez o ar livre continue sendo a melhor opção, tanto para mim quanto para a minha plantinha. O único pequeno detalhe é que, neste caso, apenas buganvílias não vão presas por atentado ao pudor.

Verónica Vidal - Eu disse que não falaria em orgasmos múltiplos, mas sou muito mentirosa. Não tanto quanto jardineiros e sexólogos.

2 comentários:

  1. Querida,
    Deus sabe o que faz. Imagine se a sua trepadeira estivesse bela e frondosa as pessoas passariam em frente de sua casa e diriam:
    - Olha só que linda a casa da trepadeira!
    Talvez não pegasse bem.
    Brincadeiras a parte, gosto muito do seu jeito inteligente e bem humorado de escrever.
    Um beijo
    Dinorah

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  2. Olá, Dinorah!
    Como bem dizia minha mãe, duas cabeças pensam melhor do que uma. Ainda não tinha visto por esse lado, e pensando assim até me consolo um bocado. Lembro de um livro que li quando pequena, "O Menino do Dedo Verde". Definitivamente, meu dedo não é verde.
    Beijo, gatíssima!

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