terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eu não Falo a Língua dos Anjos

Meus cachinhos dourados encantavam a quem passava. Impossível não parar, não mexer, não brincar comigo. Era fofa. Tinha aquele amor incondicional que só os bebês têm. E distribuía sorrisos sem seleção. Eu queria um colinho.

"Fui pá sacola tudá". Foi a minha primeira expressão de vínculo social e responsabilidade. Fui para a escola estudar. Mas dormia. Porque naquele momento estudar não era prioritário. Dormir sim. E desde sempre eu soube a que era importante na vida. Importante era o colinho.

E cresci por uma adolescência revoltada por tudo e por nada. O mundo estava de mal comigo, meu sapato não combinava com o meu vestido. Lá além da esquina era pura explosão de sonhos, e tudo o que eu queria era viver a promessa do sonho. Queria ter pernas compridas para caminhar mais rápido. Queria ter braços enormes para abraçar o mundo. Minha casa era a prisão. Eu era maior do que eu mesma, meu corpo era alienígena. A inquietude e o desespero se instalavam com tentáculos cada vez mais poderosos. Tomei decisões. Arrependi-me das decisões. Voltei atrás. Perdi o caminho. Procurava o colo.

Fechei a porta da revolta, abri a janela da vida. Botei o pé na estrada para conhecer outros mundos e voltei para casa. Porque hoje minha casa é o meu refúgio, o meu castelo. Começo agora a arar a terra para semear futuro. O trabalho das minhas mãos determinará se meu campo terá flores. Tento dizer a mim mesma que certamente dará flores e frutos. Caminho vacilante, sinto mãos que ainda me apoiam. Estou aprendendo a andar. De vez em quando, quero colo.

Tenho 20 anos. Eu não falo a língua dos anjos. Mas tenho muito amor, e é isso o que vale.

Verónica Vidal

À minha filha Thaissa que, com toda a sua inquietude, faz chover amor.

6 comentários:

  1. Feliz aniversario pra minha amiga, irmã, filha, mãe tudo junto em uma só.

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  2. - Os belos caixinhos dourados já se foram,
    agora so restou muitos gastos com salão de beleza para cauterizações, escova disso, escova daquilo ... kkkk. É, esse ' vou pra sacola tudá ' é bem FAMOSO hihihi, eu não era revoltada, era só o mundo que não me entendia . Oo
    Eu te amo mãe, e obrigada pela homenagem, e sei que você sempre vai me amar, eu bebê , criança, adolecente, adulta e até velhinha *-*

    Obrigada por ser essa mãe maravilhosa !

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  3. Verônica, tu escreves tão bem! Que linda a homenagem a sua filhota.
    bjs

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  4. Lendo essa crônica, me lembrei de uma menina que sempre que tinha que pegar um ônibus, sai chorando pela rua e dizia "mãeeeee....eu não quero pegar omis". Essa frase lhe é familiar? Pois é, essa menina já não tem 20 anos, mas fala a língua dos anjos, principalmente quando se propõe a escrever.
    Parabéns, sei que sou suspeita, mas...sou sua fã.

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  5. Obrigada, Nanda! Seja muito bem-vinda. Tenho uma coleção de filhotas interessantes que dariam um livro. Acho que Deus coloca essas preciosidades nas nossas mãos com uma confiança sem tamanho, né não? Beijocas.

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  6. Kkkkkkkkkkkkkk!!! Tia Gi, só tu mesmo para me fazer lembrar disso! É, desde pequerrucha eu sabia que minha sina era andar de carro, não de ônibus! Um dia chego no jaguar! Eu que sou sua fã! Beijoooo!!!

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Vá, coragem, diga alguma coisa, comente, não dói nadinha... Beijos!