terça-feira, 4 de agosto de 2009

UMA GRANDE MULHERZINHA

Gosto de corações cor de rosa. Queria ter sido bailarina. Gosto dos vestidos de época que apareciam na novela A Moreninha. Gosto de ursinhos e bonecas. Gosto de ser mulher. Gosto de coisas de mulherzinha.

Mulherzinha para mim não é pejorativo, é grandeza e não diminutivo. É ser forte e delicada. Minha tia preferida me dava presentes de mulherzinha. Ela me deu minha primeira melissa. Quem tem 30 ou 40 anos sabe a importância que tinha uma melissa para uma menina mulherzinha. Acho que foi a única que eu tive, não me lembro. Mas se tive outra, certamente aquela foi a mais importante. Era a melissa zig-zague com purpurina. Natal, aniversário, qualquer data eu ganhava um presente e era sempre aquele que eu queria. Um pouco mais adiante, passei a usar, escondido, sua maquiagem. Abria a porta do armário e, diante do espelho grande usava tudo: batom, lápis, sombras. Lavava tudo depois pra ninguém descobrir, mas passei séculos fazendo isso. Só hoje percebo que ela sabia, mas nunca brigou comigo. Ela me deixava ser mulherzinha. Eu também queria, como ela, cozinhar a comida mais gostosa e chegar à festa sendo a mais bonita. Nunca consegui de verdade. Aprendi a cozinhar, mas não sei ainda fazer as duas coisas. Ou bem cozinho ou bem me arrumo para a festa. Mas um dia, um dia... Serei igual à minha tia.

Ela é minha madrinha, mas logo tive que dividi-la com a metade da família. Secretamente eu odiava os abraços que ela dava nos meus primos, que a chamavam de “dindinha”. Socialmente eu tinha que me comportar, por isso não falava nada, mas desejava ardentemente que fosse criada uma lei para revogar batizados de madrinhas já usadas. A madrinha era minha e ninguém podia ficar pegando o que era meu sem minha permissão. E eu não dava permissão. Nem dou. Não é ciúme, é direito adquirido. Dividir mãe e pai com irmãos ainda vá que vá, mas dividir a madrinha? Que os outros catem madrinhas exclusivas, parem de aliciar a madrinha alheia!

Mas o tempo passou e eu não posso mais sentar no seu colo nem ela pode mais pentear meus longos cabelos embaraçados sem doer. Quando eu era pequena, ela me parecia adulta, muito maior do que eu. Se tiver a oportunidade de conhecê-la, verá que não exagero. Ela é sofisticada e simples. Sabe tudo e sempre está aprendendo. Sorri e chora ao mesmo tempo. Hoje, a diferença de idade sumiu. Falamos as mesmas coisas, amamos o mesmo Deus, respiramos o mesmo ar. Ainda acho que Deus a criou para ser a minha mãe, mas ela demorou muito para nascer, então nasceu minha tia. Por que, quando eu crescer, vou ser igualzinha a ela. Uma grande mulherzinha.





Verônica Vidal, afilhada de Gisele Carvalho, ambas filhas de Deus e que gostam de canetas bonitas e laços de fita. Peço encarecidamente que parem de convidá-la para ser madrinha de seus filhos. Ela não pode, está ocupada. Por favor, deixe o seu recado após o sinal. Bip.

2 comentários:

Vá, coragem, diga alguma coisa, comente, não dói nadinha... Beijos!