terça-feira, 4 de agosto de 2009

Quero visitar sem ter motivos, telefonar sem ter assunto. Quero aproveitar o tempo com pessoas.

Hoje percebi que cresci. Percebi que nalgum dia desses tornei-me adulta e nem vi em que dia foi.

Minha avó casou-se muito cedo, como era costume na época, e teve 3 filhos, dentre os quais o meu pai. Enviuvou, como era comum na época. Casou-se de novo e teve mais filhos – não resisti a dizer que também era comum na época, e arrisco a me tornar repetitiva e o leitor achar que não tenho assunto, mas vá lá, sou mulher, gosto de detalhes. Meu pai era o segundo filho. Casou-se e teve filhas, eu inclusive. O irmão dele, terceiro filho da minha avó casou-se e teve filhos. Quem tem família numerosa sabe bem do que eu falo. Tudo isso para dizer que eu e minha prima, filha do filho número 3 da minha avó, éramos muito próximas. Mas muito, muito mesmo. Tínhamos muitos primos, mas ela era a minha preferida, tinha 1 ano a menos que eu e tinha coisas que eu gostaria de ter e amigos que eu gostaria de ter. Tinha cachinhos no cabelo que eu gostaria de ter. Passamos toda a infância juntas, festas de aniversário, natal e ano novo, que naquela época não se chamava Reveillón, e ainda parte de boas férias. O mais interessante mesmo era as visitas de fim-de-semana, inesperadas, quando brincávamos à tarde. Foi na bicicleta dela que aprendi a dar as primeiras pedaladas.

Crescemos e, como é esperado, nos afastamos. Cada uma tomou sua vida de acordo com o rumo que nossos pais adotaram. A vida dela foi breve, um sopro. Mas para mim foi sempre a minha prima mais prima.

Num dia de tão pouca importância para mim, talvez a meio da adolescência, soube que a mãe dessa minha prima estava grávida. A raspa do tacho, como se dizia. Nasceu-lhe o bebê, uma menina. Não a vi crescer, pouco falei com ela. Nunca fui visitá-la, pois já vivia a vida de uma mulher de muitas responsabilidades e tinha prioridades e horários tomados. Algumas vezes passei pelo seu bairro, pela sua rua até. Mas nunca toquei à porta. Faltava-me motivos para isso. Como se precisássemos de motivos para tocar à porta da casa da prima. A única coisa que eu sabia dela é que era parecida com minha prima favorita. E bastava.

Até que sua mãe morreu. Morreu minha tia, que fechava o ciclo da minha infância querida com a minha prima. Morreu minha tia, depois do meu tio e depois da minha prima. Por alguma razão que a gente não entende, a partida da minha tia foi a mais doída, somente comparável à partida da minha mãe. Fui ao velório. Vi minha prima, menina ainda, grávida, chorando pela terceira vez a perda de um alguém. Ficou-lhe o irmão, adulto, homem feito. Ficou-lhe o namorado, que entretanto, ainda construía história. Ia-lhe o chão.

Chorei a morte da minha tia sozinha em casa, porque os laços que nos prendiam já se haviam desatado, naturalmente ou não. Pela vida, pelo vento, pelo meu desleixo.

Estranhamente notei que cresci. Essa minha prima, já não mais menina, casou-se. Ainda que tivesse experimentado a maternidade e a convivência conjugal, só acordei para a sua passagem à vida adulta ao ver suas fotos de casamento. Eu por cá, do outro lado do mundo, observei-as, uma a uma. Fotos de sonho, de princesa no cavalo branco, de príncipe à espera. Uma frase me acordou para a realidade. Ao descrever uma das fotos, diz ela: “Minha tia, representando minha mãe”. Pensei nas férias em Iguaba, e das quantas vezes a minha tia representou a minha mãe.

À memória da Tia Tete

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