Imagem: Twin Heart, by Christian Schloe |
E brincávamos de roda e de pique
alto na vila onde morávamos. E desfolhávamos marias-sem-vergonhas para fazermos
unhas postiças, bem presas nos nossos dedos com cuspe. E disputávamos quem
embalava melhor o carrinho da bebé.
Mas ela logo entrou para a
primeira série e eu fiquei para trás. Já não podia mais estar na mesma sala de
aula da minha irmã. Ela tem um ano a mais, é mais esperta, está à frente. E eu
fui, mal e mal, seguindo os seus passos.
Nos bailinhos de carnaval no
Clube Vasco da Gama, onde exibíamos as nossas fantasias – sempre iguais, nunca
repetidas – habilmente confeccionadas pela D. Lina – dançávamos sempre de mãos
dadas ou bem pertinho uma da outra, que era para não nos perdermos. Fomos índias,
baianas, havaianas, empregadas domésticas, usamos sarongues e pareôs.
Nossa primeira vez na discoteca
foi memorável. D. Lina nos levou e por lá ficou, enquanto nos acabávamos na matiné
de domingo do Olaria. E um dia fomos à discoteca no clube de Iguaba. Sem a mamãe.
À noite. Com rapazes. Não, não fomos. Minha irmã foi. Eu era só a irmã mais
nova que tinha que ir também. E fui junto.
E fui crescendo à volta dos
amigos da minha irmã, que sempre compartilhou comigo um bocadinho de tudo. Era
como se ela primeiro experimentasse a sopa a ver se estava muito quente, muito
salgada, para só depois eu ir provar também. Toda a nossa infância e pré-adolescência
foi assim, até que ficamos gente grande e cada uma seguiu seus próprios passos.
Já não usamos mais roupas iguais, já não frequentamos mais os mesmos lugares, já
nem vivemos mais no mesmo país. Mas para sempre ela será a primeira, a minha
irmã mais velha.
Verónica Vidal
À minha irmã Valéria, que não é minha gémea mas toda a gente achava que sim, os meus parabéns!