Como é doce essa tristeza, como é quentinha esta caverna. O conforto que a quietude nos dá muitas vezes é perturbado por aquele que simplesmente não consegue enxergar beleza na tristeza. Não consegue ver a vida no luto. Não percebe que existe uma casa no meio do silveiral e que a casa não quer que as silvas de lá saiam. Não agora, deixa-as ali, fazem-lhe companhia, aquecem-na no inverno, protegem-na do sol de verão, guardam-na com seus espinhos.
Todos somos, vez ou outra, como casas escondidas no meio de espinheiros. Eu como mutante que sou, mulher inconstante que ora ama o sol e dias claros, ora encanta-se com as tempestades e a escuridão de um céu sem lua, cá cultivo meus espinhos.
É que eu tenho a necessidade de ancorar, ainda que às vezes,
porque tudo para mim é o apocalipse e fico cansada de mim mesma. A
mansidão das praias são vitais para acolherem o meu barco, que
invariavelmente navega por tempestades sanguíneas, de paixões e palavras
engasgadas e ditas e não ditas e profundamente sentidas. Tudo é denso,
tudo é profundo. Quero a leveza do nada. Às vezes, só às vezes.
É que eu tenho o desejo imenso de chorar até não mais poder, e soluçar e
gritar e morrer neste dia. É só às vezes, só às vezes. Basta que me
digam que tudo irá passar. Que não tentem consertar nada, não me tentem
animar. É meu dia de luto. Só hoje, só hoje, eu não quero ter a
obrigação de ser feliz. Não quero sorrir, antes desejo afogar nas minhas
lágrimas o meu desespero até que eu suma. E dormir ali, enroscada.
Diz-me só que tudo irá passar. Ou deixa-me no meio do espinheiro.
Verónica Vidal