Já fui romântica, tipo suspiros no travesseiro. Já beijei meu próprio braço, imaginando o meu amado. Tá certo que, naquela época, o amado era substituído semanalmente, mas lá no fundinho era sempre o mesmo. Mudava de rosto, mudava de cor, mas a alma era a mesma. Já beijei o espelho – sem batom, é claro. Isso é coisa de filme, na minha casa era sentença de morte ditada pela Dona Lina. Já fiz de conta que eu era a mocinha do filme.
Hoje sou bem mais prática. Já não beijo o espelho – até porque sou eu quem o limpa! Mas leio Neruda e me proíbo não demonstrar amor, não criar a minha história e não viver a minha vida como se fosse o último suspiro. Um dia, eu acertarei em cheio mesmo! Já não beijo o meu próprio braço, porque o amado já lá está. É a mesma alma, que amei desde a infância, embora os rostos de antes tenham se fundido numa só face hoje.
Já não o quero para mim a todo o custo, porque meu já é. O amor é meu, ninguém mo pode tirar. A serenidade e a paz que o amor traz são erroneamente confundidas com o fim da paixão. O amor não é o resquício da paixão, ele nasceu amor e, ao contrário da outra, não esmorece com o tempo. Antes cresce, cimenta admiração, concretiza pontes de ligação eterna. E este amor tão pouco versado nos contos e poemas, é aquele que quase se pode apalpar, que pontilha a vida de cuidados, que busca a lenha para me aquecer, no frio sibérico que faz por estas terras. Nas coisas mais corriqueiras do dia, mora o amor. E vive ainda no desejo sem pressa, na leveza do riso, na companhia calada.
E, na lista que fiz com o nome dos homens que eu amei, risquei cada um, e escrevi o teu por cima. Só hoje entendo que amei sempre e sempre o mesmo. Amei o amor. E não é que te tenha encontrado, mas sim, que te tenha reconhecido.
Verónica Vidal
**Ao meu marido, cujo amor que tem por mim, faz-me amá-lo cada dia mais.
Também já beijei meu próprio braço, beijei o espelho (com batom). E o amor eu ainda não reconheci...bjss Cada dia que passa te admiro mais.
ResponderExcluirÔôô... Su! Que atire o primeiro lip gloss a menina que nunca beijou seu próprio braço. Mas cá entre nós: Tua mãe era mesmo boazinha, hein? Não rolava um castigo pelas marcas de batom no espelho? Beijos com canela!
ResponderExcluirAh, beijos. Sempre deliciosos. Acho que lembro de todos eles: roubados, pedidos, ensandecidos... Meu filho ia para escola com um beijo meu de batom vermelho. Ele ia pequenino com a mão fechada, porque o beijo era dado na palma da mão e a mão fechada, que era para o beijo não fugir. Tbm gostava de beijo marcado na bochecha e como ele era mto fofo, voltava cheio de marcas. Ainda beijo o espelho e agora deixo junto um lindo bilhete. Pode ser para mim ou para meu amor. Pra vc beijos com barulho de estalinho.
ResponderExcluirO amor é…
ResponderExcluir…ter a certeza que eras sempre tu!
A felicidade está sempre para além do horizonte; o momento corrente pode dar prazer, pode fazer-nos tombar de plenitude, mas não passará nunca de uma etapa para a felicidade; e, a soma de todos esses momentos, será a felicidade? Pelo menos foram o caminho; e chegados aqui, ao último êxtase, virando a cabeça para trás que vemos? Que percorremos um longo caminho de busca. E que caminhando chegámos a casa. Era isto que buscávamos, era sempre isto: a nossa casa.
Enquanto a não a encontrámos procurámos sempre e agora iremos habitar aqui. Podemos dizer sustendo as lágrimas: - Tu és a minha casa e sempre que amei foi a ti.
Aprendi isto agora ao ler-te Verônica, obrigado!
Ai, ai... Como é bom amar!!!
ResponderExcluirAdorei o seu texto, Verônica!!!
Cinthia, minha querida! Que delícia a tua visita. É, amar é muito, muito bom. Amo a pieguice e as coisas ridículas dos amantes. Aqui têm uma palavra especial para isso: Lamechas. Lamechices. Acho que é meio pejorativo, mas eu a-do-ro!!! Sou lamachérrima, minha carneirinho linda!
ResponderExcluirOlá, Manuel!
ResponderExcluirSabe, demorei a responder aqui porque ficamos de conversê no msn e eu perdi o timing. É verdade, reconhecemos o amor quando o reconhecemos como a nossa casa. É bom estar em casa. E é bom sair com a casa, feito caracol. Beijim, moço de Aguim!
Veronica,
ResponderExcluirAcabei de descobrir você no "Banheiro Feminino" e amei a sua declaração de amor. Que belo texto, que alma generosa.
Um beijo linda. Felicidades
Dinorah
Olá, Dinorah!
ResponderExcluirMuito obrigada pelas doces palavras. Eu adoro o "Banheiro Femino". Também te "achei" lá. Aliás, Dinorá com agá no fim é o máximo! Já temos tanta coisa na vida para reclamar, então... acho que ficamos com o amor para adoçar o tempo. Beijocas, minha querida!