segunda-feira, 11 de abril de 2011

Não Me Canso Mesmo

Tem uma música que Roberto Carlos canta que diz assim:

Não me canso de falar que te amo,
E que ninguém vai tirar você de mim…”

Até podem dizer que vira e mexe eu falo da minha avó, que talvez eu fale mais nela do que nas minhas filhas, mas quem assim fala é porque não a conhece, ou pelo menos não a conhece de verdade, como eu, como alguns privilegiados pela vida.

Para vocês que por cá estão e que não podem ir lá conhecê-la, vou tentar dar uma discreta ideia do que é essa moça vivida chamada Dona Alice:

Ela tem, não apenas um país, mas um mundo de maravilhas. Estar com ela é ter a certeza de que a vida vale a pena, é saber que o sol existe para beijar as águas da praia de Iguaba, que o inverno nunca chegou e que cada cajuzinho merece a sua metade de amendoim torrado no topo. Ela sempre chega na sua casa na hora certa, naquela hora em que você levaria uma palmada e, magicamente, sua mãe esquece da palmada porque os poderes da Dona Alice são inegáveis. Eu vi isso, ninguém me contou.

Tive muitas roupas costuradas pela minha mãe, mas muitas outras costuradas pela minha avó. Roupas com gancho. “Domingo vamos na sua avó porque ela me vai cortar estes ganchos”, dizia a minha mãe. Portanto, imagino que roupas com gancho devam ser coisas muito especiais. As minhas eram. Eram ganchos mágicos, misturados com passeios, onde íamos enfiadas num fusca verde e acabávamos na casa da minha avó mágica, invariavelmente com um bolo, um biscoito, uma laranjada ou um Ki-Suco. E entre os tais cortes de roupas e moldes, íamos para o meio da vila onde o homem do pirulito chupetinha girava sua tramela. A parte ruim é que chegava a noite, e íamos embora.

Um dia cresci. E já grande, com filho e tudo, fui para a casa da minha avó. É interessante como a casa da minha avó nos transforma em pequenos de novo logo quando entramos nela. E sentamos no chão, e vimos fotos de quando eu era pequena de tamanho. Minha avó já não mais costura os ganchos das minhas roupas nem prepara Ki-Suco para mim, mas continua a ter o poder de me fazer sentir aconchegada, certa de que não vou levar palmada da vida, porque ao lado dela a vida vale a pena ser vivida, ao lado dela meu cajuzinho terá sempre uma metade de amendoim torrado no topo.

E é por isso vó, que eu não me canso de falar que te amo, e que ninguém vai tirar você de mim.

Beijos,

Verónica

2 comentários:

  1. Oi querida, tô meio atrasada com o comentário, não é? Pois é...mais uma vez você se fez presente no niver da vó, com sua crônica linda, sempre tão verdadeira, mesmo que para alguns pareça coisa de sua imaginação. Como somos todos personagens dessa história, houve uma emoção geral. Ah sim, sua tia, a maior fã do Roberto Carlos, fez a "introdução" da leitura cantando "não me canso de falar que te amo...". Foi lindo!
    Outra coisa: comemos cajuzinho em sua homenagem.
    Beijos e não esquece que nós amamos você!!!!!

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  2. Ai, tia, queria tanto ter estado lá! Ninguém melhor que a tia Denise para cantar Roberto Carlos... Nem me importo que não exista mais Ki-suco, mas minha família existirá para sempre! Beijos!!! Eu vos amo mais do que aos cajuzinhos (e olha que isso é muuuito amor)

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