quarta-feira, 20 de março de 2013

Pés que Correm - Ultrapassando Limites

Minha brilhante conclusão é a de que a enorme façanha da vida muitas vezes não vai além do sair dos lençóis. Inúmeros dias meu desejo solene é estar enroscada feito um caracol, até que a velhice me leve e que o pó me consuma. Passo a semana toda esperando ardentemente pela sexta-feira, simplesmente para que chegue o sábado e eu não saiba o que fazer com ele. Às vezes para não fazer nada. Falta-me propósito. Falta-me o tesão. 

Pela primeira vez, meu marido e mais um casal de amigos correram uma maratona inteirinha. São 42,195 km. É muito chão. E você até pode dizer: E daí? Muita gente corre maratonas. Talvez você conheça alguns, talvez você corra. Eu não corro nem daqui à esquina, na verdade não me dá prazer algum em correr, o que não me impede de admirar a determinação de quem o faça. Muito além da admiração, faz-me pensar na vida e nos seus propósitos.

Por que afinal, corriam eles, se não era por medalhas, por fama ou por dinheiro? Por que afinal, correm aqueles mais de 7 mil anônimos que lá estavam inscritos na famosa maratona de Sevilla? Para superar suas próprias marcas, para testar seus limites, respondia uma vozinha lá no fundo.

E por ter essa mania de pensar, segui pensando. Pensei que todos nós temos limites que precisamos superar. Sejam os ponteiros da balanca que têm que descer um bocadinho, seja aquele curso que queríamos ter feito há uns 20 anos atrás e nunca fizemos, seja a carta de condução que nunca tiramos, ou que tiramos, engavetamos, mas não conduzimos. Todos nós temos limites a superar, sejam eles da enormidade de maratonas, sejam minúsculos como uma caminhada à esquina, todos são, para nós, grandes façanhas. Toda grande façanha começará com um passo. De cada vez. Todos os dias, uns poucos passos de cada vez. Algum investimento, alguma renúncia, um bocadão de esforço e plum! A felicidade do limite ultrapassado é indescritível. 

Sair da concha, afastar os lençóis para o lado, catar o tesão que caiu no chão, lavar a cara e falar tem sido minha maratona diária. Ir trabalhar é só o meu escudo. Meu marido é a minha inspiração. Porque, se hoje, ele vai dar uma corridinha, eu vou ler mais um bocadinho, e em voz alta, muitas palavras com R e com L, porque o rato não raro rói as palavras que queríamos falar e de tanto não falarmos, elas nos ficam enterradas no peito e na garganta, e nos morrem na cabeça, empurrando-nos de volta à concha e aos lençóis.

Verónica Vidal - Parabéns, Mário! Na maratona que é a nossa vida, és o meu campeão, com 4 min de vantagem!