segunda-feira, 17 de maio de 2021

Nasce uma Estrela ou... um Escritor


 Já há cerca de um ano tenho este texto aqui meio escrito mas, por uma questão de elegância, fiquei à espera que primeiro o autor da obra abrisse a apresentação do seu livro. E já lá está, conhecido do grande público, o novo livro do Pedro Guimarães, "Criadores de Estrelas".

Não guardo segredo nenhum que, vez por outra, sou acometida de paixões lancinantes por alguns escritores. Sou mulher eclética e sem preconceitos e, do mesmo jeito que me apaixono por Isabel Allende ou Margaret Atwood, morro de amores por Valter Hugo Mãe, Saramago e Murakami Às vezes tenho até um certo receio de ser acusada de stalker ou qualquer coisa assim. Minha sorte é que muitas vezes o objeto da minha paixão já está morto e bem morto há muitos anos e a única coisa que eu persigo são mesmo livros. Livros não nos processam por perseguição.

Conheci o Pedro Guimarães - é, agora sou assim, tu cá, tu lá com o senhor - na apresentação do seu primeiro livro, "O Diário de um Morto", que me proporcionou grandes momentos de gargalhadas descontroladas e aquela cara estampada de tonta que só um leitor sabe que faz quando está imerso numa obra. Sim, caro amigo aficionado pela literatura: Você também faz uma cara peculiar quando mergulha numa obra assim, descuidadamente, em público. Pois bem, o então autor Pedro acabou por lançar um outro livro, igualmente delicioso e facilmente devorável, o "Crianças, Bichos e outros Patifes".

Ocorre que, a dado momento, escrever caiu-lhe no gosto e o senhor lá decidiu-se por lançar outra obra. Desta feita, não mais na primeira pessoa, mas um livro de mistério, romance e assassinatos, não necessariamente nesta ordem. E lança o "Criadores de Estrelas". Como já havia sido fisgada, li-o, claro. E durante o desenrolar da história, começo a perceber, no avançar das páginas, o nascimento de um escritor. Lembrei-me da personagem da Lady Gaga no filme (mentira, lembrei mesmo foi do Bradley Cooper, mas isso é outra história). Aquele que antes era autor de boas histórias, que contava experiências vividas na pele - dele próprio ou de outrem -, inicia agora a construção de um mundo imaginário, ainda que real. Entretanto, conseguiu manter a doce assinatura que fez com que nos apaixonássemos pela sua escrita. Se nos dois primeiros livros ele declara o amor pelas suas raízes, pela sua mulher e pelo seu neto, neste o Pedro declara o seu amor pela cidade de Coimbra. Os personagens passeiam pelos recantos da cidade e arredores e, de brinde, somos nós também transportados. Sem uma gota de pretensão, mantendo a linguagem simples e a narrativa direta que acabou por se tornar a sua assinatura, Pedro Guimarães deixa, com este livro, de ser um contador de histórias para ser um escritor. Presenteia-nos com uma crônica policial, meio ao estilo Rubem Fonseca, meio a jeito de conversa, que nos agarra às páginas, nos alimenta. Livro bom é aquele que agrada e Criadores de Estrelas agrada, põe-nos um sorriso de satisfação na cara. 

"O que realmente me impressiona é um livro que, quando você acaba de lê-lo, você deseja que o autor que o escreveu fosse um amigo incrível seu e que você pudesse ligar pra ele quando sentisse vontade." - J.D. Salinger (O Apanhador no Campo de Centeio(BR) /Uma Agulha no Palheiro(PT))

Verónica Vidal